Peixes voltarão ao Rio Madeira em cinco a seis anos, diz vereador
Porto Velho, Rondônia – Membros da Comissão das Compensações Financeiras das Usinas do Madeira (CPI das Usinas) e da comissão encarregada de acompanhar os trabalhos nas comunidades atingidas pelo complexo hidrelétrico estiveram na manhã desta sexta-feira 10 na comunidade de Cujubim Grande, localizado há 32 quilômetros de Porto Velho.
Cujubim é mais uma localidade impactada pela construção das usinas, mas nem por isso recebeu contrapartida econômica das compensações ambientais e sociais do consórcio. Na comunidade de cinco mil habitantes as famílias tradicionais reclamam do sumiço do pescado, da falta de estrutura das estradas, escola e falta até água potável.
Nos depoimentos colhidos dos representantes da comunidade, novos indícios do engodo plantado pela usina de Santo Antônio nas reuniões realizadas por Furnas antes da chegada dos empreendimentos. “Fomos enganados, a ata com nossas assinaturas só serviu para que eles conseguissem o financiamento e depois nunca mais pisaram aqui”, lembra o professor Luiz Pereira Braga, diretor da escola Deigmar Moraes de Souza, onde foi realizada a audiência pública.
Segundo o diretor, a única coisa que a escola recebeu em todos esses anos a título de compensação foi 60 jogos de mesa e cadeira. A escola mantida pelo município possui até o Ensino Fundamental e possui 400 alunos, e está carente de tudo. A pior situação enfrentada pelos alunos é estudar em salas de aula pequenas e sem ar refrigerado em dias de calor intenso. “Se tivéssemos recebido alguma compensação com certeza aplicaríamos na compra de centrais de ar”, ressaltou.
Os impactos causados àquela comunidade e na região do entorno são praticamente as mesmas encontradas em outros locais pela comissão. “Cada visita, uma nova denúncia. A gente não sabe onde isso tudo vai parar, mas a cada dia nos deparamos com cada situação inusitada. Milhões de Reais foram pelo ralo ou desviados e, as comunidades que mais foram atingidas pelas usinas foram as que mais tiveram prejuízo”, disse o presidente da CPI, Jair Montes (PTC).
Em sua fala, o vereador Everaldo Fogaça (PTB) comentou sobre as visitas que a comissão vem fazendo e fez um prognóstico nada animador, em que pese sua intenção de apoiar as comunidades. Para ele, a implantação da hidrovia do Madeira deve piorar ainda mais a situação. “Antes da chegada das usinas, durante uma reunião no Rio de Janeiro, um seminário promovido por Furnas que levou gratuitamente uma comissão de jornalistas locais para conhecer os impactos das usinas, o presidente interino se recusou a falar sobre o assunto “hidrovia”, ao ser questionado sobre sua implantação”, disse.
Segundo Fogaça, o assunto hidrovia estava proibido de ser mencionado, o que denota que o empreendimento, a exemplo das usinas, deve ter alto poder na destruição ambiental. “Que a construção das usinas sirva de aprendizado para todos. Essa lição nós teremos que aprender e reaprender a reivindicar nossos direitos nos próximos empreendimentos que vão chegar na região nos próximos anos”, disse Fogaça ao citar a construção do novo porto da capital em Cujubim, no valor de R$ 400 milhões.
O vereador Valter Canuto (PSB), pescador há quase cinquenta anos, disse que acompanhou a maioria das audiências “Pré-usinas” e disse que, segundo previsões dos engenheiros das usinas, o pescado só deve voltar ao rio Madeira dentro de cinco ou seis anos. Enquanto isso, a Colônia de Pescadores, da qual é presidente, luta na Justiça para que esses pescadores recebam compensação mensal no valor de dois salários mínimos até que a atividade pesqueira se normalize.
Participaram da audiência pública em Cujubim Grande os vereadores Everaldo Fogaça (PTB), Jair Montes (PTC), Léo Moraes (PTB), Valter Canuto (PSB), Dim Dim (PSL) e Jurandir Bengala (PT), dentre alguns representantes políticos como o professor de História Adailton Noleto.
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