A narrativa de Roberto Gutierrez revela curiosidades da história dos carnavais de Ouro Preto que deram origem as grandes festas transformado, inclusive, o aniversário da cidade num grande acontecimento para dar lucro.
Roberto Gutierrez – O pernambucano Valter, o primeiro dentista de Ouro Preto/RO (1971), Nelson Baracho, Raimundo da Cruz Teixeira, Nilo, Parafuso, Demerval Baiano, Agenor Nogueira da Rocha, Dona Gladys Gutierrez, dona Dalva Cabral e mais um bocado de gente foram os percursores do Carnaval de Ouro Preto/RO. Não havia onde brincar carnaval. Daí, seguindo a tradição dos carnavais do nordeste, a turma começava a beber na casa do seo Agenor, também conhecida como a pensão da dona Gladys, na qual havia farta aparelhagem de som com muito disco de marchinhas. Após a concentração saiam para as casas dos amigos para fazer folia. Jogar farinha e água – era uma diversão. No ano seguinte, surgiram três blocos. O dos sujos, liderado pelo Coruja – a Raimundo da cruz Teixeira, os Molhados liderados, por Baracho, e os Farinheiros, que tinha à frente o casal Valter e Dalva. Isso há mais de 40 anos. No ano seguinte, 1973, o carnaval de rua continuou na Sapolândia, mas, à noite, ganhou um lugar especial, o clube do Incra, palco de grandes festas da época. Era tudo muito divertido. Desses personagens descritos, ainda estão vivos, ‘seo’ Agenor, possivelmente Nilo e Demerval Baiano, que deve morando em Ariquemes.
Com o tempo, já no fim da década de 70, os carnavais aconteciam, no cine Teatro Ouro Preto. Isso se estendeu até meados dos anos 80, além do clube da Aceo, que não existe mais. Hoje a área é um centro de convivência de idosos, na Sapolândia.
Em meados dos anos 80, o Carnaval ganhou a Praça dos Migrantes como palco. Algumas casas noturnas surgiram como a Discolanche, do Valmir Chaves, em frente à praça. Mas, bem antes disso, não posso me esquecer da primeira discoteque de Ouro Preto: a Skylab, em 1978. Na década de 90, novas casas surgiram, as coisas foram tomando proporções maiores, o carnaval de rua em Ouro Preto ganhou fama, se dando ao luxo de ter carnaval fora de época e tendo como calendário o aniversário da cidade e as festividades de fim de ano – uma indústria lucrativa que colocou Ouro Preto do Oeste como a capital do interior durante o Carnaval, Micaouro e festa da virada. Isso sem contar os grandes acontecimentos esportivos até internacional. Vejam como agora é fácil entender o porquê de Ouro Preto ter sido uma cidade tradicional em festividades. – tudo começou na velha Sapolândia, que nem esse nome ao bairro a Câmara de Vereadores manteve.
Hoje, 16 de junho, é aniversário de Ouro Preto. Sequer a bandeira do município desenhada pelo saudoso amigo Manoel Marques Cristovam será hasteada. Festa não vai acontecer. É como se a cidade estivesse sitiada no medo. É com se a cidade estivesse amordaçada pelo proibido, pelo código do silêncio, pela omissão de um sistema, como se um braço armado da lei de um outro planeta estivesse apontado para a cabeça de Pierrot.
Ouro Preto vive à sombra econômica de Ji-Paraná. Isso é natural, pois árvore pequena próxima demais de árvore grande tem dificuldade de crescer. No entanto, um dos maiores trunfos de Ouro Preto para gerar circulação de dinheiro, que são as grandes festas, foi jogada no lixo. Meu pai, ‘seo’ Agenor, um ancião que está sobrevindo as sequelas de um AVC, que já se fantasiou de Carmem Miranda para os primeiros passos do Carnaval de rua da Sapolândia, ao lado de heróis anônimos da alegria, está triste porque a nossa Ouro Preto está sem risos, alegrias e de palhaços no salão. Ouro Preto: um aniversário sem bolo, sem festa, sem presente como se não tivesse nada para comemorar.
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