A polarização em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff chegou aos senadores antes mesmo de a Câmara dos Deputados ter aprovado a admissibilidade do processo.
Senadores da base governista apostavam em um desgaste do vice-presidente Michel Temer e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), perante a opinião pública, enquanto os oposicionistas afirmam que as ruas pressionarão pela saída da petista.
“A partir de amanhã, vamos nos reunir para organizar as coisas no Senado. Hoje eles [oposição] não têm voto para o julgamento final”, afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Para o petista, o processo na Câmara foi “uma vergonha” e a população irá desconfiar de uma eventual gestão Temer.
“É um discurso desrespeitoso, uma vergonha. Eu senti nojo disso aqui hoje. Impressionante. Acho que o povo está muito desconfiado disso aqui, do que aconteceu hoje aqui. Não acho que tenha festa no meio do povo”, disse.
Segundo o petista, se Dilma for afastada pelo Senado e Temer assumir o comando do país, o PT irá para a oposição. “Não vemos legitimidade em Temer e Eduardo Cunha para governar esse país, não vamos reconhecer esse governo. Vamos para a oposição, se eles derem esse golpe, de forma muito aguerrida, porque é um golpe para retirar direito de trabalhadores”, disse.
Ele também ironizou o discurso da oposição de que a sociedade quer mudanças. “Isso não é o que as ruas estavam querendo. As ruas estavam querendo mudança. E aí, quem vem? O velho PMDB, Temer e Eduardo Cunha. É um escândalo. Acho que pode haver pressão gigantesca das ruas por eleições diretas”, disse.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), afirmou que a discussão no Senado terá um nível mais elevado do que a que aconteceu na Câmara e disse acreditar que ainda é possível manter o mandato de Dilma. ”
“Quando começamos essa disputa, era proporção de quase 80% da população contrária ao nosso governo, PT extremamente mal avaliado, e agora nós vamos terminando com praticamente meio a meio na sociedade nessa disputa sobre o impeachment. Movimentos sociais tiveram papel muito importante, com participação intensa e pacífica”, disse.
Em contrapartida, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) afirmou ao fim da votação que o resultado já era esperado e não houve surpresas. “Os parlamentares não votariam contra a vontade da população”, disse. Para ele, o processo deverá ter celeridade no Senado.
Já o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), afirmou que o Congresso, mesmo com todos os seus defeitos, “nunca faltou ao povo brasileiro na hora H”. “E hoje não foi diferente. Agora, o PSDB quer um diálogo absolutamente institucional com Michel Temer e não deseja que o PMDB faça conosco o que o PT fez com o próprio PMDB”, disse.
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