As acusações feitas pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, causaram preocupação no Palácio do Planalto. Embora auxiliares do presidente Michel Temer atribuam as denúncias a uma “vingança” de Cunha, a avaliação foi a de que as suspeitas levantadas por ele provocam constrangimento no momento em que Moreira Franco participa da comitiva presidencial, na viagem a Nova York, justamente para apresentar o programa de concessões a potenciais investidores.
Dois auxiliares de Temer disseram ao jornal “O Estado de S. Paulo que”, na semana passada, Cunha já havia dado sinais de que faria tudo para envolver Moreira Franco em irregularidades na obra do Porto Maravilha – projeto de revitalização da área portuária do Rio, que enfrenta denúncias de corrupção. O secretário assegurou ao presidente, no entanto, que estava “tranquilo” por não ter “nada a esconder”. Procurado pela reportagem, ele não quis responder às acusações.
No Planalto, a percepção é a de que Cunha quer se vingar de Moreira Franco por atribuir a ele a articulação política para cassar o seu mandato. A operação teria começado com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), genro do secretário executivo do PPI, para a presidência da Câmara, derrotando o grupo do peemedebista
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no domingo, 18, o deputado cassado afirmou que o programa de concessões do governo Temer “nasce sob suspeição”, com risco de escândalo. “Na hora em que as investigações avançarem, vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo”, disse Cunha. Ele acusou Moreira Franco de estar por trás de irregularidades no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), que é administrado pela Caixa e financia obras de infraestrutura. Segundo Cunha, a operação de financiamento do Porto Maravilha foi montada por Moreira Franco
O secretário executivo do PPI ocupou a vice-presidência de Fundos e Loterias da Caixa de 2007 a 2010, antes de Fábio Cleto, que denunciou Cunha ao fazer delação premiada. O empresário Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, também afirmou à Procuradoria-Geral da República, no âmbito das investigações da Lava Jato, que Cunha cobrou propina de R$ 52 milhões em troca da liberação de verba do FI-FGTS para o Porto Maravilha. O deputado cassado classificou como “surreal” a acusação.
Mágoa
Parlamentares governistas interpretaram as afirmações de Cunha como fruto da mágoa de quem
acaba de ser cassado. “Acho que ele está um tanto magoado, isso é natural. Eduardo Cunha é um homem ressentido, que está fora do processo político”, disse o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). Pauderney também saiu em defesa da eleição de Maia para a presidência da Câmara. “O Rodrigo se viabilizou por ele.”
Maia foi procurado, mas não comentou as declarações do peemedebista. A leitura que aliados do governo fizeram é que, ao eleger Moreira Franco como alvo, Cunha mostra que tem “bala para atirar”, só resta saber se ele tem provas a apresentar. Para um líder da base aliada, Cunha “mata dois coelhos (Maia e Moreira) com uma paulada só”.
Para o vice-líder da bancada do PT, Paulo Pimenta (RS), Cunha sinaliza que não está ressentido apenas com “traidores” e desafetos, mas que tem muito a dizer sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o que pode comprometer Temer. “Foi um sinal para o Moreira Franco e ao governo Temer que ele (Cunha) não está morto.”
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