Por Aline Dias – Agência do Rádio – O número de diagnósticos de autismo cresce a cada ano. O relatório mais recente do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD), dos Estados Unidos, aponta que houve aumento de 15% no número de crianças diagnosticadas com o distúrbio, que por existir em diferentes níveis, recebe o nome de espectro autista. A porcentagem equivale a 1 caso para cada 59 crianças, em 2014, contra 1 em cada 68, em 2012. No Brasil, não há dados oficiais, mas a estimativa é de que, em todo o país, existem dois milhões de autistas.
Uma das principais dificuldades das crianças com autismo está no relacionamento com outras pessoas. A comunicação também sofre interferência, já que algumas têm fala repetitiva ou nem mesmo a desenvolvem. Além disso, o comportamento também tende ter um padrão repetitivo, por isso autistas não gostam de mudanças na rotina.
Pensando na inclusão e na melhora do desenvolvimento de crianças com este distúrbio, alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Ubá, em Minas Gerais, desenvolveram uma ferramenta que pode ser utilizada nas escolas e também nas casas das crianças.
A Mesa de Interação e Comunicação para Crianças Autistas (MICCA) auxilia na interação do autista com seus cuidadores, sejam professores, pais ou profissionais da saúde. O móvel possui formas curvas que tornou o produto visualmente atraente para qualquer criança utilizar.
Júlia Badaró, 18 anos, é uma das alunas responsáveis pelo projeto e explica que através de figuras e um sistema elétrico, que emite som e luz, o autista pode se comunicar selecionando sua necessidade. O sistema possui conexão de internet e bluetooth.
“Na mesa tem as imagens, tem como mudar, personalizar de acordo com o que quer fazer, tem como retirar. Lá tem um botão que a criança aperta, aí acende um led para o cuidador saber o que a criança está desejando no momento. O cuidador recebe uma notificação no celular do que a criança pediu, caso ele não esteja perto no momento”, destaca.
A ideia surgiu após a orientação da pedagoga do SENAI de Ubá, Waleska de Almeida. Os alunos a procuraram para saber como poderiam ajudar as crianças que estudam no sistema inclusivo das unidades SESI de Minas Gerais.
A pedagoga conta que acompanhou todo o desenvolvimento do projeto e que a MICCA já é utilizada nas escolas SESI e em uma ONG de crianças autistas de Visconde do Rio Branco, que também apoiou o projeto. A mesa foi testada e utilizada por toda a equipe multidisciplinar, pela fonoaudióloga, pela terapeuta ocupacional e pelos médicos que acompanham as crianças autistas que participam da ONG.
Segundo Waleska, com a mesa os professores conseguem dar mais atenção para as crianças que estão nas salas inclusivas. Além dos autistas, ela está ajudando também crianças com outros distúrbios, como déficit de atenção, por exemplo. “A mesa está sendo utilizada, inclusive, para alfabetização. Para o ditado, a professora faz o ditado e a criança vai apertando as sílabas que são colocadas no lugar das fichas”, explica.
O projeto foi desenvolvido, inicialmente, para o Mundo SENAI, realizado, anualmente, em todos os estados brasileiros. O objetivo do evento é apresentar a indústria como um setor dinâmico, com oportunidades de trabalho interessantes e promissoras. Os alunos apresentaram a mesa, pela primeira vez, durante o evento. O projeto foi selecionado para o Mostra Inova 2018 e ficou entre os 15 melhores, na categoria Produto Inovador.
Programa Mostra Inova
O programa Mostra Inova 2018, do SENAI, classificou 50 projetos para a fase nacional, em duas categorias: Produto Inovador e Processo Inovador. Os classificados demonstraram seus projetos na Olimpíada do Conhecimento, realizada pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e SENAI, no mês de julho.
Os 25 projetos classificados na categoria Produto Inovador tiveram consultoria com profissionais especializados, aulas à distância e auxílio financeiro de até cinco mil reais para o desenvolvimento das ideias. Na categoria Processo Inovador, os selecionados contaram com consultoria, participaram de banca virtual, de aulas à distância e auxílio financeiro de até dois mil reais. Ao todo, participaram quatro projetos desenvolvidos por alunos das escolas SENAI de Minas Gerais.
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