
Uma crônica de causos, em primeira pessoa, escrita pelo jornalista *Carlos Pedro Macena
Antes do franciscano de Cidade Ademar que tirou da fome o proto-cearense destramelado (merecedor do cânon só por isso), antes dos walking deads da Vila Mariana, meus colegas de infortúnio na pensão Baden-Baden, antes da Zizi Fawcett da Asa Sul, antes do primeiro estelionato mal-sucedido no Marista, já tinha rolado muita treta.
Em Brasília, éramos primos de rocha, de passar fim de semana, descer de skate, na tora, a ladeira da L-2 até o Lago, jogar mãe-da-rua, bétis, pique-bandeirinha (na queimada, ôpa, aparte histórico obrigatório: indisputada Granada de Ouro sempre será láurea indiscutuda da Iuka, a Temida – marcou no rebote, tomava um Tomahawk entre as costelas de perder o fôlego e pedir pra sair), éras mais ou menos uns dez primos.
Em Santa Rita do Araguaia, cidade-irmã de Alto Araguaia (huahuawei…), terra de várias férias, havia outra ruma de moleques e meninas, mas, por agora, reposicionemos o leme empós do Plano Piloto, rumo à Península Norte, ao Núcleo Bandeirante, Guará e à Candangolândia.
No time de origem na Rua Assunção em Fortaleza, de parte do meu pai, José Augusto da Assunção (R.I.P.), “Nêgo”, “Zeca”, “Ógusto”, tema senior dos escrevinhismos a seguir, tínhamos em campo e no banco: Clair, Cleomar, Cleidinha, Clerton e Claudemir (‘Demi’, um dos dez caras mais legais do mundo para quem o conhece), todos irmãos, filhos do Tio Toím, primo do Augusto, e da Tia Linosa, mágica do prêt-a-porter, ás do pedal na Singer, capaz de repetir para DT os modelitos YSL, CH, LVMH, Dener, Balenciaga, o que fosse, saíam de suas ágeis mãozinhas peças de causar furor nas noites de gala vividas nos salões do Minas Brasília Tênis Clube, Cota Mil, cascavilava-se à sorrelfa, “Como será que a Tereza chegará?”… E mais Lurdinha, Raimundim e Fátima, irmãos filhos do Sudário (aterroriza até hoje o eco de seu nome aqui no teclado, deve ser coisa de criança) e da Tia Fanca, todo mundo morando no Guará I e II, na época terra sem lei, paraíso dos rachas no trevo, Corcel x TL x Dojão.
Ainda em Brasília, ainda militantes da facção DT, residentes numa casolhaça na Q1 da Península Norte, filhos do Tio Delson, burocra-master na Codeplan, e da Tia Eleuza, outra das irmãs de quem a saudade irá se referir linhas abaixo, Sérgio, Carmem e Karen representavam com graça e donaire as cores de Goiás.
E em Goiânia ainda tinha a Tia Nair e sua filha Adriana… Putz, concebe aí um embrião platônico de romance pré-adolescente entre uma garota que já debulhava Rachmaninoff num Steinway aos doze anos e um pregolino coetâneo cuja má-fama de CDF promissor já chegara ao Setor Bueno. Ficamos horas mudos, olhos entrefixos na piscina, enquanto DT e Tia Nair… ara, essa historieta acaba aqui. Arriba e adelante…
Voltando ao primaréu da infância, também escalados no time de DT, todos de origem difusa, nascidos entre Quirinópolis, Mineiros, Torixoréu e Santa Rita, sem ordem besta de titular ou reserva, entre outros mas sempre em campo: Nica, Vera, Estela, Demerval, Eraldo, Naire, Naide, Neire, Silvana, Herbert, Luizinho, Douglas, Agnaldo, Marlene, Sávio, Sérgio e Martinzim, fora o mesmo “quantum”, cujos nomes ora faltam-me à memória, I.A. nenhuma sabe isso, thanks God. São filhos das irmãs, entre mais cinco, Genésia, Ivett Inês, Paulina, Suami, Natalice, Maria, Placidina e de Oclécio, todos de quem minha mãe era tia, tá entendendo? Falei, “pega um lápis-lho”.
*
US Top. Gledson. Waikiki. Levi´s. O Pasquim. Correio Braziliense. Reader´s Digest. MAD, Alfred E. “Quem, eu me preocupar?” Neuman. Cebolinha, Horácio. Marcial Lafuente Estefania. Conan, O Bárbaro. Bicicletas Tigrão, BMX e Cecizinha (guidom idiota, um ipsilon sem vértice). Merenda de arroz com cenourinha ralada na 107.
Ih, lembrei. B.O. gigante, escala federal, 1972 talvez 1973, primeira vez que apareci na televisão, programa “Titio Darlan”, TV Tupi: “Atenção, informe urgente: está desaparecido desde as treze horas desta segunda-feira o garoto tal, de nove anos, morador da 307 Sul, ao lado da Igrejinha, aluno da tarde na Escola Classe-107, visto pela última vez atravessando a galeria subterrânea do Eixão em direção à Cotelb da 408. Qualquer informação etc etc.”
Sabe o que acontecera? Na sexta-feira, a professora avisara: “Segunda, nenhum aluno vai entrar aqui na escola se não tiver…”
(has to be continued, you wacca jacca)
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Corta para 1984, 1994, 2004, 2014, 2024.
*Carlos Pedro Macena é de Brasília (DF), 61 anos, graduado em Jornalismo pela USP/1989. Ex-Diretor da Afiliada Globo m Vilhena, ex-repórter de Política da “Folha de Rondônia”, Chefe de Reportagem do “Diário da Amazônia”, Assessor de Imprensa do Detran-RO. Trabalhou na Editora Abril, no Grupo Folhas e 11 anos no Banco do Brasil. Atualmente, só pesca e mente.

As aventuras de Charles Peter (parte I.) por Carlos Pedro Macena
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