Anistia ampla: o dilema que paralisa o Congresso

Enquanto esse tema não for definido não há como o centrão conseguir unidade dentro da direita para deslanchar a candidatura de Tarcísio de Freitas, o favorito da Faria Lima.

*Roberto Gutierrez – O debate sobre a anistia geral ampla e irrestrita voltou a travar a pauta do Congresso Nacional, e não é por falta de urgência. Para aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro, a votação dessa medida é vista como uma passagem necessária para “virar a página” de uma disputa que já consumiu energia política demais. A questão central é simples, mas carregada de consequências: ou se vota a anistia, incluindo a possibilidade de tornar Bolsonaro novamente elegível, ou a Câmara fica praticamente bloqueada, sem avançar em outras matérias importantes.

Regime menos severo

O cálculo político desses aliados é direto. Acreditam que, ao aprovar uma anistia ampla, poderiam reduzir a pena do ex-presidente pelos atos do dia 8 de janeiro — atualmente de 17 anos — para algo em torno de 11 anos, com chance de regime menos severo.

Reorganizar

Para eles, isso é estratégico: limpar o caminho judicial seria também uma forma de reorganizar a base política e as alianças, inclusive em estados chave, como São Paulo, onde decisões de apoio podem influenciar futuras candidaturas. Aliás, a meta é abrir caminho para o candidato do Centrão Tarcísio de Freitas.

 

Indefinido

Enquanto isso, o relator da proposta, Paulinho da Força, sinalizou que tinha a intenção de apresentar o texto e levar a votação, mas acabou adiando. A matéria agora repousa na gaveta da Câmara, sem perspectiva clara de deliberação imediata.

Complexidade
A paralisação não é apenas um reflexo da complexidade legal do tema, mas, sobretudo do peso político que ele carrega: cada passo é minuciosamente calculado, e cada decisão repercute diretamente no processo eleitoral.

Valdemar e Bolsonaro
A visita hoje (20/10) do presidente do PL Valdemar da costa Neto ao ex-presidente Bolsonaro deixa claro o esforço de articulação: orientar a base, alinhavar estratégias e tentar destravar o que está emperrado há semanas. Mas a verdade é que, enquanto o dilema central não for resolvido, o Congresso corre o risco de ficar refém de uma pauta única, onde a anistia se torna mais do que uma medida jurídica — transforma-se em moeda de negociação política.

Incertezas

Em última análise, o desafio é evidente: a política nacional está diante de uma escolha que mistura justiça, estratégia eleitoral e alianças partidárias. A decisão sobre a anistia ampla não é apenas sobre penas e processos; é sobre o futuro da governabilidade e o ritmo das decisões legislativas. E até que essa equação seja resolvida, a Câmara seguirá com uma pauta engessada, à espera de um gesto que, para uns, é libertador, e para outros, controverso demais.

 

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

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