Fux, a Segunda Turma e o “Jogo das Maioresias”

Fux, a Segunda Turma e o “Jogo das Maioresias”

A mudança define a formação de duas turmas opostas, uma delas que atenderia o pensamento da extrema-direita.

 

*Roberto Gutierrez – A ida do ministro Luiz Fux para a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) tem despertado mais atenção do que se imagina. Se confirmada, a mudança poderia reposicionar o equilíbrio de forças dentro da Corte, dando a Fux uma espécie de liderança sobre um grupo formado por Cássio Nunes e André Mendonça. Juntos, poderiam compor uma maioria frente ao presidente da turma, Gilmar Mendes, e a Dias Toffoli.

 

Revisão da inelegibilidade de Bolsonaro

Curiosamente, essa movimentação não parece ser motivada pelo descontentamento de Fux em ser voto vencido na Primeira Turma, mas por um possível interesse estratégico: o pedido de revisão da inelegibilidade de Bolsonaro. Na Segunda Turma, Fux poderia, teoricamente, formar uma maioria com os ministros indicados pelo ex-presidente, tornando o cenário mais favorável à análise do caso.

 

Críticas de Gilmar Mendes a Fux

Gilmar Mendes, presidente da Segunda Turma, tem se mostrado crítico a algumas decisões de Fux, especialmente ao episódio em que o ministro leu seu voto por 14 horas, isentando Bolsonaro de responsabilidade na suposta tentativa de golpe de Estado que resultou na condenação do ex-presidente. A relação entre os dois, portanto, não seria das mais harmoniosas, o que adiciona tensão ao possível rearranjo.

 

Ironias e desafios enfrentados por Fux na Primeira Turma

Na Primeira Turma, Fux chegou a ser alvo de ironias e comentários discretos por parte de colegas, em função de suas posições consideradas protocolares ou extensas demais em votações. Esse histórico pode influenciar o ambiente da Segunda Turma, mostrando que a mudança não será apenas uma questão de números, mas também de dinâmica política e reputação entre os pares.

 

Artimanhas

O cenário, portanto, é um intrincado jogo de estratégias: Fux poderia se tornar decisivo em casos delicados, mas precisaria navegar cuidadosamente as relações com Mendes e Toffoli, além de gerir a expectativa de ministros que observam de perto seus movimentos. No STF, como na política, mais do que força numérica, pesa a habilidade de construir consensos e jogar com sutilezas.

No fim, maioria sem jogo de cintura não garante resultado. No STF, como na política, quem domina a receita das maioresias controla o prato final.

 

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

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