Confúcio Moura – a calma do veterano em um cenário turbulento

A partir de hoje passo a escrever uma série de colunas com o perfil de cada possível candidato a governador de Rondônia. Na semana seguinte faremos as análises de composições políticas.

Roberto Gutierrez – Em um cenário político marcado por polarização e impaciência, o senador Confúcio Moura (MDB) continua sendo o rosto da ponderação. Experiente, articulado e dono de uma biografia política consolidada, Confúcio mantém-se como uma das vozes mais equilibradas de Rondônia — qualidade que, curiosamente, é também seu maior desafio. Num estado majoritariamente bolsonarista, a moderação é virtude e obstáculo ao mesmo tempo.

Surfando
Depois de dois mandatos como governador, Confúcio parece confortável no Senado, onde tem exercido um papel técnico e discreto. Mas o jogo de 2026 o coloca novamente no radar das grandes disputas. Há quem aposte numa eventual candidatura ao governo, embora ele próprio — e o MDB — sinalizem que o caminho natural é a reeleição ao Senado, especialmente com duas vagas em disputa.

Vantagens
Entre os fatores favoráveis, estão a memória administrativa positiva e a capacidade de articulação que mantém portas abertas tanto em Brasília quanto nos municípios. A influência direta na execução de obras federais em Rondônia — algo que o eleitor percebe — reforça seu peso político. Além disso, Confúcio é o único grande nome que ainda pode falar com todos os lados sem ser hostilizado. É visto por prefeitos e servidores como um ponto de estabilidade num tempo de ruídos.

Desafios
Mas há pedras no caminho. A primeira delas é o ressentimento da direita e do agronegócio com os decretos de criação de reservas ambientais assinados em seu governo. Esse tema ainda ressoa nas conversas de bastidor, especialmente entre lideranças rurais e parlamentares alinhados ao bolsonarismo. Outro ponto é sua ligação institucional com o presidente Lula, algo que, num estado onde a maioria vota à direita, pode lhe cobrar preço político — mesmo que seu discurso seja de independência.

Senado
O MDB, contudo, joga com cálculo. Sabe que Confúcio tem voto consolidado e é competitivo mesmo em ambiente adverso. O partido acredita que, com a direita dividida em até cinco candidaturas, ele larga com vantagem para garantir a segunda vaga do Senado, pois, em tese, estaria navegando sozinho em até 40% do eleitorado.

Paciência
O ex-governador não precisa correr. Tem tempo, estrutura, e o conforto de quem já venceu no voto majoritário. Se decidir disputar o governo, encontrará resistência natural do campo conservador; se permanecer mirando o Senado, pode repetir o feito de 2018: chegar como quem não quer, e sair com o mandato.

Confúcio é o político da escuta longa e da fala curta. Em tempos de gritos e manchetes, essa talvez seja a maior diferença — e também sua aposta.

Governo
Uma composição da Centro-Esquerda vê em Confúcio uma força muito importante para disputar o governo, principalmente se Lula conseguir se reeleger no primeiro turno conforme revelam as pesquisas em todos os cenários. Alguns setores acham que isso ajudaria Confúcio numa possibilidade de segundo turno em Rondônia. Muito embora um apoio importante, mas só faria alguma diferença se a disputa estivesse num empate técnico.
Lula nunca venceu em Rondônia.
Na atual conjuntura, uma vitória do presidente no estado em 2026 seria quase uma impossibilidade filosófica — a exemplo do que já ocorreu em todas as seis eleições presidenciais desde 2002. Rondônia jamais deu vitória ao PT.

Conservadores
O estado votou, de forma consistente, em candidatos de centro-direita ou direita, consolidando um perfil político conservador, ruralista e fortemente influenciado por igrejas evangélicas e pelo setor do agronegócio.

Não há muito o que fazer
Digo isso para pontuar que, mesmo com Lula subindo a palanques em Rondônia como presidente reeleito, não se deve esperar efeito prático relevante a favor de um candidato da coalizão de centro-esquerda — ainda que esse nome seja Confúcio Moura, com toda sua experiência e articulação.

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.