Fernando Máximo, o médico que transformou a touca em bandeira política

O personagem da segunda coluna da série os pré-candidatos ao governo de Rondônia é o deputado federal Fernando Máximo, que ganhou notoriedade durante a pandemia.

Por Roberto Gutierrez – Fernando Máximo é um fenômeno curioso da política rondoniense. Médico, ex-secretário de Saúde e hoje deputado federal, ele fez da touca hospitalar — símbolo do combate à pandemia — um emblema eleitoral. A imagem do gestor com jaleco e fé em Deus colou na memória popular e construiu um personagem que mistura técnica, carisma e religiosidade. Uma fórmula difícil de replicar, mas que até aqui tem dado resultado.

Covid

Com 46 anos, formado pela Universidade Federal do Amazonas, Máximo conquistou visibilidade quando comandou a Secretaria de Saúde de Rondônia durante o período mais crítico da Covid-19. Ganhou respeito por sua atuação de campo e proximidade com a população. O “doutor de touca” virou figura diária nos noticiários e lives, defendendo medidas de enfrentamento e, ao mesmo tempo, se comunicando com o eleitorado conservador e cristão. Dali nasceu o capital político que o elegeu deputado federal em 2022, pelo União Brasil.

 

Atuação

No Congresso, Máximo atua com disciplina. Apresentou projetos de lei na área da saúde e da educação — como o que propõe o funcionamento ampliado das unidades básicas e outro que cria selo de inclusão para empresas e escolas. Ainda sem grandes leis aprovadas, tem se destacado nas comissões de Saúde e Família, onde trabalha como relator em proposições de impacto regional. É um parlamentar presente, embora mais conhecido pelo discurso do que por resultados legislativos concretos até agora.

 

Os Prós

O maior trunfo de Fernando Máximo é sua imagem consolidada de médico competente e servidor público de fé. Essa combinação o aproxima de um eleitorado que valoriza figuras técnicas, mas quer convicções morais. Sua ligação com lideranças evangélicas é sólida, o que lhe garante base fiel nas igrejas e nos bastidores do segmento. Além disso, é um comunicador nato, domina redes sociais e constrói uma imagem de acessibilidade que poucos políticos mantêm.

 

Bosonarista

Outro ponto a seu favor é a fidelidade ideológica. Desde o início do mandato, Máximo manteve o alinhamento total às pautas defendidas por Jair Bolsonaro — um gesto de coerência política que o coloca entre os nomes mais previsíveis e confiáveis do campo conservador. Nos bastidores, isso o torna um aliado estratégico em qualquer composição da direita em Rondônia.

 

Irmão famoso

Por fim, Máximo tem algo que pesa nas urnas: popularidade fora da política. É irmão do cantor sertanejo Cauan, da dupla Cleber & Cauan, e sabe aproveitar essa vitrine sem exagerar. Soma imagem técnica, fé e música — uma combinação rara e eficiente para um estado de perfil interiorano e conservador como Rondônia.

 

Os Contras

Mas há também os pontos de sombra. O primeiro é o risco de ser lembrado mais pelo marketing do que pelas entregas. Até agora, Fernando Máximo tem boa imagem e visibilidade, mas seu portfólio legislativo ainda é modesto. A presença nas comissões e nas redes sociais não se converteu, até o momento, em leis de impacto nacional. Isso o coloca na categoria dos políticos populares, mas ainda não decisivos.

 

Dependência

Outro ponto delicado é a dependência política de figuras maiores, como o senador Marcos Rogério. O futuro de Máximo — se buscará a reeleição ou outro cargo — passa pela decisão do senador sobre disputar o governo ou o Senado. Em um cenário de caciques fortes, essa dependência limita movimentos e ambições.

 

Maior desafio

Há também o desafio de transcender o bolsonarismo sem perder sua base. Em um país que começa a reorganizar o espectro da direita, o deputado precisa encontrar um discurso próprio, menos reativo e mais propositivo. Se continuar preso à retórica de 2022, pode acabar refém de um rótulo.

 

Risco

E, por fim, o excesso de religiosidade na retórica pode ser trunfo ou obstáculo — dependendo do público. Em segmentos mais urbanos e laicos, o discurso pode soar messiânico. Em Rondônia profunda, ainda é ativo eleitoral.

 

O Veredito

Fernando Máximo construiu um personagem político de rara força simbólica: o médico de fé que enfrentou a pandemia e entrou na política para “curar o país”. Isso tem peso, tem apelo e garante voto. Mas a próxima etapa exigirá mais que imagem e devoção. Exigirá resultado concreto, liderança própria e coragem para sair da sombra dos padrinhos.

 

Desfecho

Enquanto isso, segue com a touca na cabeça — símbolo de um tempo, de uma narrativa e de uma ambição que ainda não chegou ao fim. Eu acho que a touca hospitalar deveria dar lugar a um adereço de um novo momento. Muito embora a pandemia tenha sido uma oportunidade profissional que lhe rendeu frutos para ingressar na política, foi também um deus-nos-acuda do desespero, do medo e da dor quanto às perdas de vidas. Uma metamorfose no símbolo do marketing poderia ser a dose certa de uma mensagem subliminar para um novo tempo.

 

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*