Entre o mito e o barulho improdutivo – coluna do Gutierrez

Marcos Rogério deverá enfrentar o radicalismo crescente de ala extrema e a falta de autocrítica dentro da própria direita.

 

A face civilizada do bolsonarismo rondoniense

Marcos Rogério representa hoje o lado mais civilizado do bolsonarismo e vai enfrentar a dissidência mais radical do próprio grupo, que poderá flertar com Adailton Fúria, o prefeito de Cacoal.

Meu amigo Robson Oliveira comentou recentemente que Fúria pode cair na mesmice e no esquecimento. Eu diria o mesmo: corre o risco de ser como um vídeo que viraliza e depois desaparece. Essa possível falta de consistência é tema interessante para uma análise de marketing político. Ele tem potencial, mas, se não souber dosar as qualidades certas, será apenas um político regional — e nada além disso.

 

O vício da militância sem diálogo

Uma parcela do bolsonarismo de Rondônia, que passa o dia compartilhando publicações nas redes sociais, demonstra dificuldade em assimilar o diálogo equilibrado. Basta um parlamentar de direita adotar uma postura de bom senso para ser rotulado de “comunista” ou “melancia”.

Marcos Rogério, embora nunca tenha ocupado cargo executivo, consolidou uma imagem de político consistente, com discurso articulado e conteúdo. O desafio é encontrar a forma certa para que sua fala não soe arrogante — traço que talvez tenha pesado na derrota para Marcos Rocha, somado à narrativa de que seria mais útil em Brasília ajudando Bolsonaro, que acabou não se reelegendo.

 

Os extremos e o vazio do discurso

Para quem vive nos extremos, à direita ou à esquerda, qualquer posição que não seja idêntica passa a ser vista como oposição. Essa intolerância explica o comportamento caricato de figuras como o deputado federal Coronel Chrisóstomo, cujas falas exageradas viram material para cortes e memes nas redes com a nítida intenção de demonstrar que é bolsonarismo raiz e não corre do quebra-pau.

 

Inconsciente popular

O “bicho-papão” da bancada federal de direita e extrema-direita começa a ser percebido pelo eleitorado rondoniense, que, pouco a pouco, passa a se perguntar: “O que esses parlamentares estão realmente fazendo por Rondônia?”

Não se trata de negar que algo tenha sido feito, mas o excesso de discurso antipetista e anticomunista, vendo “demônios” em tudo, ofusca o que realmente importa: o resultado concreto do trabalho em Brasília.

 

Saudosismo e política de resultado

De repente, o eleitor se lembra de nomes do passado — Acir Gurgacz, Valdir Raupp, Marinha Raupp, Fátima Cleide, Roberto Sobrinho, Daniel Pereira — e faz a conexão com Confúcio Moura, sobrevivente daquela geração. Sua atuação, voltada às demandas dos 52 municípios de Rondônia, tem garantido liberação de recursos e obras.

É natural, portanto, que surja uma comparação com sabor de saudosismo político. Confúcio Moura não se abala com as críticas por ser aliado do presidente Lula. Faz política de resultado, sem xingar adversários ou demonizar quem pensa diferente.

 

Entre o mito e o barulho improdutivo

Se a direita rondoniense não rever conceitos e continuar jogando para agradar um exército de seguidores em estado quase patológico de idolatria política — aqueles que acreditaram em algo que nunca passou de um mito —, corre o risco de cair na mesmice e no descrédito.

Sem resultados concretos, restará apenas o barulho improdutivo das redes — alto o bastante para chamar atenção, mas vazio demais para transformar Rondônia.

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

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