Este ano, no dia 25 de maio, a Polícia Militar do Acre (PM/AC) completa 100 anos de fundação. Segundo o coronel, Júlio Cesar, comandante-geral da PM/AC, a polícia participou da construção do Estado. “Ruas, aeroportos, estradas foram abertas por esses militares. Na época, militares tinham esse cunho da construção”.
A Polícia Militar do Acre avançou ao longo dos anos, tanto em tecnologia como a relação com a comunidade. “A PM/AC cresce muito. Nos últimos anos temos adquirido mais tecnologia, via-turas, mais informação, comunicação, e isso vêm fazendo com que a gente consiga manter os índices de criminalidade, ainda não é o ideal, mas é menor que alguns estados”.
O coronel destaca que o relacionamento polícia e população se estreitou. Para ele, o trabalho social desenvolvido pela PM/AC é responsável pela aproximação. “Hoje, os atritos são mínimos. Nós temos uma parceria muito forte com a comunidade. Isso nos ajuda a adquirir uma parceria muito grande”, contou o comandante-geral.
Os programas sociais desenvolvidos pela polícia são muitos, entre eles estão: PROERD, Escola de Música, escola de futebol, Galvez Esporte Clube, Coral da PM/AC, entre outros. “A polícia entende que só prender não adianta. Nós temos também que atuar no lado social. O Acre hoje é o Estado que mais tem pessoas encarceradas, em relação ao número de habitantes. Então, nós precisamos cuidar das escolas, das famílias, da juventude de hoje”.
Júlio Cesar ressalta que pesquisas apontam a PM/AC como a mais honesta do país. Além disso, ele acrescenta que a revista Veja rea-lizou uma pesquisa em que a polícia do Acre é apontada como a 5ª melhor do Brasil. “Nós estamos a frente de polícias grandes, de estados financeiramente melhor que o Acre. Nossa estatísticas é muito justa, é real. Avançamos muito nisso também”, disse.
A cúpula de segurança do Estado é formada por um conjunto de polícias e outros agentes de segurança. A PM é responsável pelo trabalho ostensivo e atendimento imediato das ocorrências, é conhecida como a polícia das ruas.
“Nós dependemos muito das informações. Nós precisamos também que as pes-soas se protejam, pois sabemos que muitas vezes a ocasião faz o ladrão. As vezes o problema não é só de polícia, as vezes é uma rua mal iluminada, terreno baldio, entre outros. Nós fazemos esse trabalho junto com a comunidade”, explicou o coronel.
“É uma carreira que nos suga muito, nos tira um pouco da nossa paz. O militar é referência no bairro, na rua. É uma profissão muito apaixonante. Tenho depoimento de outros militares, que entraram na PM apenas por um emprego e depois abraçaram a causa e nunca mais saíram”, relatou Cesar.
O coronel afirma que o amor pela profissão é o que o mantém na Polícia Militar do Acre. “Quero deixar meu legado. É uma profissão que eu abracei, dedico minha vida integral a essa polícia. Todos os cursos que eu tenho são na área do militarismo, ainda não me vejo dando baixa não. Ainda tenho muito gás”, concluiu Júlio Cesar.
O surgimento da PMAC
Para entender como a Polícia Militar do Estado do Acre surgiu, é preciso voltar no tempo, mais precisamente na época das disputas entre Brasil e Bolívia pelas terras acreanas. Após vários acordos entre os países em conflito, em 17 de novembro de 1903, foi assinado, o Tratado de Petrópolis. Dessa forma, o Acre passava a ser território brasileiro.
A estrutura organizacional da milícia se adequava com base no desenvolvimento administrativo do Acre. Depois da unificação dos Departamentos, em 1º de janeiro de 1921, as Companhias Regionais foram extintas. Em seu lugar, foi criada a Força Policial do Território Federal do Acre.
Por falta de estrutura, a Polícia Militar do Acre só veio a ser concretamente instalada em 31 de março de 1974. É importante destacar que para efeito de comemoração de seu aniversário, a Lei nº 812 de 5 de dezembro de 1984, instituiu a data de 25 de maio de 1916 como marco inicial da PM/AC.
BRENNA AMÂNCIO
Até meados dos anos 90, mulheres não tinham as mesmas oportunidades que os homens na Polícia Militar do Acre. Elas só po-diam ser promovidas até o posto de capitã. Além disso, sofriam outros tipos de preconceito dentro da própria corporação.
Atualmente, a coronel Maria do Perpétuo Socorro de Freitas Souza vê o quanto as mulheres avançaram na instituição. Situa-ções onde elas eram diminuídas diante dos homens ficaram no passado. E o seu exemplo é a melhor para provar isso.
Na mais alta patente da PM, a coronel Socorro já chegou a assumir o comando-geral da corporação no Acre em março de 2016. Era a primeira vez na história do Estado que uma mulher assumia tal cargo. “Passei três dias como comandante-geral e mais outros como subcomandante. Eu sei que é um cargo político também e agradeço ao ex-governador Jorge Viana e o atual governador Tião Viana, que sempre acreditaram na força da mulher”.
Essa história de superação e determinação começou em 1990, quando Socorro tinha apenas 20 anos de idade. Na época, ela fez vários concursos com o intuito de conseguir um emprego, já que em casa as finanças não iam muito bem. Com a mãe doente, ela precisava ajudar o mais breve possível.
“Eu me inscrevi para vários concursos. De todos, o que eu menos tinha interesse era o da PM. E foi exatamente nele que obtive sucesso e passei para oficial feminino. Hoje me arrependo de ter pensado daquela forma. Vejo que isso é o que realmente sei fazer”.
Em 1991, Socorro foi encaminhada à Academia de Polícia Militar do Paudálio, interior de Pernambuco. Lá, ela recebeu treinamento pesado. Assim como os demais colegas homens, ela fazia as mesmas tarefas físicas, exceto barra.
Ao retornar ao Acre, em 1994, logo recebeu a missão de ir atuar em Cruzeiro do Sul. Socorro foi a primeira aspirante a ir servir no interior. Foi então que sentiu o peso do preconceito de quem não estava acostumado a ver uma mulher ocupar um cargo como aquele. “Ouvi outro colega de farda zombando. Ele disse algo assim: agora estão aceitando de tudo aqui, até mulher. Depois, o chamei em particular e tiramos aquilo a limpo. Tive que me impor e fazer valer o respeito”.
De volta a Rio Branco, no governo de Orlei Cameli, Socorro fez parte da companhia de guarda. Um pouco mais tarde, quando Jorge Viana assumiu a gestão do Acre, ela foi transferida para o 1º Batalhão (área central da Capital).
Ela conta que até 1997, mulheres só eram promovidas até o posto de capitã, pois os quadros eram separados. Os direitos eram diferentes para homens e mulheres.
Socorro e outras colegas lutaram pelo processo de unificação dos quadros. Quando conseguiram, uma nova era começou na instituição. Contudo, o preconceito teve de ser combatido aos poucos.
“Lembro que cheguei a dar de cara com um praça (policial) com as calças no meio das pernas. Ao me ver, sequer fez menção de levantá-las ou sair correndo. Não me respeitou, nem se desculpou. Se fosse um oficial homem, ele teria batido contingência, ou demonstrado respeito. Era difícil para alguns reconhecer a autoridade das mulheres na corporação. Por isso, não deixei passar em branco. Chamei a atenção dele e exigi respeito. Eu estava quebrando um comportamento preconceituoso de décadas”, relata.
Socorro conta que em 2000, a Polícia Militar do Acre realizou novo concurso para “praças” com vagas para mulheres. A última vez que uma oportunidade assim tinha sido aberta no Estado havia sido em 1988. Apenas 12 anos depois a instituição voltou a abrir as portas para a entrada de mais mulheres.
No currículo da coronel Socorro, além de ter comandado o 1º Batalhão, também esteve à frente dos Batalhões de Tarauacá (7º BPM). Foi também subcomandante da Comunicação Policial Militar (Copom), atual Centro de Operações em Segurança Pública (Ciosp), e do Centro de Formação e Aprimoramento Policial (CFAP).
Hoje, a oficial ocupa o cargo de corregedora-geral, sendo assim, a terceira na hie-rarquia organizacional da corporação. Diante de todas as suas conquistas, Socorro revela que não imaginava chegar tão longe. “Quando entrei na polícia, nunca me passou pela cabeça chegar aqui. Jamais duvidei da minha capacidade, mas sabemos que a patente de coronel precisa de indicação, é um cargo político. Ainda assim, dei o meu melhor e fui reconhecida”.
Ela é a terceira mulher a chegar ao posto mais alto da Polícia Militar do Acre e reconhece a sua importância na história do Estado. “Sei que sou referência para muitas mulheres da instituição. Hoje, as mulheres estão disputadas nos cargos aqui. Não querendo desmerecer os colegas homens, mas elas estão mais qualificadas. Buscam se especializar e acrescentar conhecimento ao trabalho. Tivemos recentemente o caso da sargento Raimunda, que é a nossa primeira choquiana. Ela foi a primeira mulher a passar nesse teste de resistência, no Acre. Isso é um diferencial”.
O legado de proteger a sociedade passado de pai para filho
No último dia 20 de fevereiro, Kenede Arnóbio de Souza Barbosa, 49, vestia o uniforme de policial militar pela última vez. Depois de anos servindo à corporação, em Sena Madureira, havia chegado o momento de entrar para a reserva. Contudo, algo a mais tornava o momento especial. Arnóbio tiraria o último dia de serviço ao lado do filho Kennedy Rivelino Motta Barbosa, 25, também policial militar.
Kennedy trabalha em Rio Branco. Quando a instituição soube da vontade dele de servir junto com o pai, preparou toda uma logística para possibilitar o encontro.
O dia ficou marcado na memória do policial. “Foi uma experiência ótima. Meu pai ia me dando as instruções que ele havia aprendido ao longo da vida. Ao final do plantão até tivemos de mobilizar algumas pessoas e levá-las para a delegacia”.
Apesar de Arnóbio não ser uma pessoa de se expressar muito, deixou claro ao filho que estava satisfeito com a experiência.
Aquele dia foi como a realização de um sonho, para Kennedy. Desde pequeno, teve influência do pai e do tio, que também é policial militar. Via Arnóbio fardado e sonhava fazer o mesmo em algum momento.
O orgulho que sentia pelo pai vinha acompanhado do medo, devido ao risco que a profissão possui. Ele conta que teve muito anseio no dia em que Arnóbio e outros policiais confrontaram criminosos em um assalto em Feijó. A ação resultou na morte de um oficial.
Hoje, ao dar continuidade ao legado do pai, Kennedy tem outras ambições. “Pretendo passar em outro concurso. Meu objetivo é ser delegado. Até conseguir chegar lá, vou dando o meu melhor”.
O policial carrega o orgulho de nunca ter feito nada fora da legalidade. “Creio que a gente tem de ser melhor a cada dia. A Polícia Militar busca cumprir o dever de proteger a sociedade. Muitas vezes não somos reconhecidos. Somos alvos de muitas críticas. Essa geração que está chegando tem tentado mudar isso. Tentamos mudar essa visão da sociedade de pensar que o policial é aquele da época da ditadura, que bate, que é turrão, que não é inteligente. Hoje, muitos oficiais estão se qualificando, buscando formação”.
Sobre a imagem negativa que algumas pessoas têm da polícia acreana, Kennedy deixa uma mensagem. “Meu recado para a sociedade é procurar valorizar mais o trabalho do policial. A gente tenta fazer o nosso trabalho dentro da legalidade. A gente faz porque gosta”.
Algumas pessoas nascem com vocação para seguir uma profissão. Outras sabem o que querem desde muito cedo e lutam para alcançar o objetivo de vida. Mas, a história do major Balica, de 58 anos, foi diferente. Ele trabalhava como garçom e tinha muitos amigos militares. Entre uma mesa e outra, Balica sempre escutou que a carreira de policial era promissora.
Estimulado pelos amigos, o atual major fez o concurso da Polícia Militar do Estado do Acre e ficou classificado em 1º lugar. Balica mal sabia que sua vida estava prestes a mudar completamente. “Eu sempre dizia que não queria ser polícia. Mas, fiz o concurso e passei em 1º lugar. Depois de três anos como policial passei no concurso para sargento”.
Hoje, com quase 34 anos de serviço militar, Balica diz não se arrepende da escolha que fez. “A polícia só ensina coisa boa, ensina a ser uma pessoa correta. Eu me adaptei muito fácil, aprendi a gostar tanto do que eu faço que estou aqui até hoje, mesmo podendo já ter me aposentado”, disse.
O major reconhece que junto com a farda de policial militar vieram muitas responsabilidades. Porém, ele diz que o reconhecimento e respeito da comunidade fazem com que o trabalho de policial militar seja gratificante.
“Eu percebo que, principalmente na região onde eu moro, a comunidade me respeita. Acredito que isso tem muita relação com minha profissão”, relatou.
Pai de três filhos, Balica conta que o mais velho, de 33 anos, graduado em Educação Física, decidiu seguir a carreira militar. “Ele era professor e escolheu entrar na Polícia Militar. Ele é meu orgulho. Falei para ele, já que decidiu entrar, que siga meu exemplo. Tenho maior prazer em passar minha espada para ele”.
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