Tecnologias do abacaxi e da mandioca têm destaque na Coopavel

Show Rural Coopavel

Até o dia 10 de fevereiro, em Cascavel (PR), a Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) — Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, participa do Show Rural Coopavel, divulgando as mandiocas adaptadas ao Centro-Sul BRS 396, BRS 399 e BRS CS01, o abacaxizeiro BRS Imperial e os abacaxizeiros ornamentais BRS Anauê e BRS Boyrá, plantados na Unidade Demonstrativa. Na Casa da Embrapa, será a vez de apresentar a Rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária (Reniva) e a multiplicação rápida da mandioca, utilizando-se uma câmara de germinação. Haverá, ainda, a degustação de frutos do abacaxi BRS Imperial entre os visitantes.

Multiplicação de mudas de mandioca (Reniva)
O Reniva que tem por objetivo constituir uma rede de multiplicação e distribuição de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária tanto para pequenos agricultores familiares quanto para os grandes agricultores das principais regiões produtoras de mandioca em todo o país.
Trata-se de uma estratégia para promover efetivo ganho de qualidade e produtividade no sistema de produção da mandioca, ao promover maior sustentabilidade e competitividade para esta cultura e disponibilizar manivas (mudas) em quantidade suficiente e nos períodos de maiores demandas, em função das melhores épocas de plantio. A ideia nasceu a partir do trabalho da equipe de transferência de tecnologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura em uma iniciativa que visa preencher a importante lacuna relacionada à falta de material propagativo de mandioca para o sustento dessa atividade geradora de alimento e renda da agricultura familiar brasileira.

Mandiocas de mesa
A BRS 396 e a BRS 399 foram desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético de Mandioca da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) e têm como principais características elevado potencial produtivo, precocidade, polpa de raízes de coloração amarela, reduzido tempo para cozimento, além de resistência à bacteriose e ao superalongamento.
Uma coleção de híbridos desse programa de melhoramento foi introduzida em 2010 nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) — que tem um campo avançado no Centro-Sul —, por meio de trabalho conjunto com a Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e a Embrapa Produtos e Mercado (Escritório de Negócios de Dourados). Após o processo de avaliação, que contou com a participação de diversas instituições parceiras, esses clones foram selecionados. Nas três safras em que foram avaliadas, a BRS 396 e a BRS 399 apresentaram produtividade de raízes superiores à cultivar padrão IAC 576-70 — aumento em média de 40% e 73%, respectivamente. Por terem a polpa amarela, as duas obtêm vantagem em relação à cultivar padrão, cuja polpa da raiz é creme, pois a coloração amarela tem a preferência do mercado de mandioca de mesa da região. Além disso, a coloração amarela está relacionada à presença de maior quantidade de betacaroteno (precursor da vitamina A).

Multiplicação rápida de material propagativo de mandioca
A baixa taxa de multiplicação da mandioca é um dos obstáculos à sua propagação em larga escala. De cada planta de mandioca, obtêm-se de cinco a dez manivas de 20 cm de comprimento, em um período médio de 12 meses, o que equivale à taxa de propagação de 1:5 a 1:10.
Um método simples e barato para aumentar a taxa de multiplicação da mandioca é a multiplicação rápida. Consiste em cortar as hastes da planta em pedaços com duas ou três gemas e plantá-los em canteiros cobertos com plástico transparente, para reter o calor do sol. Esses canteiros são regados frequentemente, e, assim, a umidade e a temperatura elevadas induzem o brotamento das manivas. Ao atingir o tamanho de 10 a 15 cm, os brotos são cortados e postos em água, para enraizar. Por sua vez, as manivas de duas ou três gemas voltam a brotar. Dessa forma, aumenta-se consideravelmente a taxa de multiplicação da cultura.

Abacaxizeiro BRS Imperial
A cultura do abacaxi é atacada por diversas doenças, sendo a principal delas a fusariose, causada pelo fungo Fusarium guttiforme, que pode levar a perdas superiores a 80% na produção de frutos. A fusariose tem sido responsável pelo declínio da abacaxicultura em diversas regiões produtoras do país.
Resultante do cruzamento entre as cultivares Perolera e Smooth Cayenne, realizado na Embrapa Mandioca e Fruticultura, o abacaxi BRS Imperial não possui espinhos nas folhas, produz frutos menores que os da variedade tradicional Pérola, com casca espessa, polpa firme, de cor amarelo intenso, elevado teor de açúcares e excelente sabor. Seu teor de ácido ascórbico (vitamina C) também é alto e o fruto apresenta ainda maior resistência ao escurecimento interno.
Com essas características, o BRS Imperial atende ao novo padrão familiar brasileiro e também à exportação. Resistente à fusariose, demanda menor uso de agrotóxicos.

Abacaxizeiros ornamentais BRS Boyrá e BRS Anauê
Foram desenvolvidos a partir de outras conservadas no banco de germoplasma de abacaxi da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que tem mais de 600 acessos e uma enorme riqueza e variabilidade genética da espécie. “Dentre as variedades silvestres, que não são comestíveis, muitas possuem frutos pequenos, hastes retorcidas e cores variadas, características interessantes que podem ser melhor exploradas como ornamentais. A partir de um criterioso trabalho realizado com essa coleção, foi possível identificar e melhorar materiais com potencial para usos diversos no segmento de flores. O melhoramento genético e a construção dos produtos pretendidos foram ações paralelas”, explica a pesquisadora Fernanda Vidigal.
As cultivares abrem um novo nicho de mercado para agricultores familiares e para produtores de maior porte, incluindo exportadores. Comercializado na Europa há mais de uma década, o abacaxi ornamental tem mercado inexpressivo no Brasil.
As novas cultivares permitiram a geração de produtos diversificados, como plantas para vasos, flor de corte (haste com a infrutescência), plantas para paisagismo (jardins e parques) e folhagens de corte. Para serem usados como flores de corte, os abacaxis precisam ter hastes longas, frutos pequenos e uma relação coroa/fruto bem equilibrada. Para o mercado externo, essas hastes devem ter no mínimo 40 centímetros e não apresentar ondulações. “Em testes realizados com consumidores e floristas brasileiros, observou-se que nossos floristas apreciam hastes sinuosas, que conferem mais movimentos aos arranjos florais”, afirma Fernanda. Para a comercialização em vaso, as plantas devem ser compactas, com folhas e hastes curtas e frutos pequenos. “Já o uso no paisagismo é livre, mas algumas plantas de porte grande se prestam bem para grandes espaços. As folhas são excelentes na composição de arranjos e chegam a durar mais de 30 dias em esponjas florais.”
Para validar o trabalho, a pesquisadora firmou parcerias com colaboradores que conhecem bem o mercado e o produto, a exemplo da ABX Tropical Flowers for Export (RN), que já exporta abacaxis ornamentais, e da TopPlant/BioClone (CE), que vem trabalhando em sistema para vasos, contando com o apoio da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE).
“O mercado externo é grande consumidor de flores de corte, e o abacaxi ornamental tem uma posição já consolidada, pois, mesmo com as crises, a quantidade consumida não sofreu grandes alterações. Novas espécies são muito bem aceitas pelos europeus, e o mercado de flores é movimentado exatamente pelo lançamento frequente de novidades, como, por exemplo, novas variedades de rosas, cravos etc. Estava faltando o lançamento, através de pesquisa séria, de novidades também na área de abacaxis ornamentais”, diz o diretor da ABX Tropical Flowers for Export, Antonio Carlos Prado.

Mandioca para indústria
A BRS CS01 apresentou boa cobertura de solo em relação às variedades mais usadas na região Centro-Sul, permitindo conduzir a lavoura com menos capinas, o que implica redução de custos. Tem ainda bom porte, característica importante para o plantio mecanizado. Em relação às principais doenças (superalongamento, bacteriose e antracnose), a reação da BRS CS 01 foi similar à das cultivares atuais. O grande diferencial ficou por conta das características relacionadas à produtividade. No primeiro ciclo (colheita aos dez meses), a produtividade de raízes foi pelo menos 31% maior que a das variedades atualmente plantadas; e no segundo ciclo (colheita aos 18 meses), o aumento registrado girou em torno de 93%.
A superioridade da BRS CS 01 nos dois ciclos indica que esse clone alia a precocidade, que lhe permite ser colhido com um ciclo, à capacidade de aumentar significativamente a produtividade no segundo ciclo. A precocidade é uma das características mais destacadas pelos parceiros. “Apostamos que vamos ter opções de variedades diferentes, que sejam precoces para colher com 12 meses. Aqui na região são quatro variedades só que temos. E são de dois ciclos, com colheita a partir de 18 meses. E queríamos uma opção para colher com 12 meses, se não a gente fica muito tempo parado, e é caro hoje em dia o custo para fazer um plantio de mandioca. Então apostamos nessa variedade nova, que demonstrou muito bons resultados”, afirma Vitorio Fadel Neto, consultor da Tereos Syral, em Palmital (SP).
Em relação à produtividade de matéria seca, cujo principal componente é o amido, a apresentada pela BRS CS 01 foi quase 50% maior no primeiro ciclo em relação às variedades mais plantadas atualmente e, no segundo, chegou a valores maiores que 100%. Isso proporciona retorno mais rápido do investimento feito na implantação da lavoura e ganhos de valor junto à indústria.

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