Maíra Heinen – Entre as delações da empresa JBS divulgadas nesta sexta-feira pelo Supremo Tribunal Federal, o depoimento de Valdir Aparecido Boni traz o pagamento de propina em troca de benefícios fiscais no estado de Rondônia. Entre 2012 e 2014 teria sido pago cerca de R$ 2 milhões e, em 2015, mais R$ 1,8 milhão.
Após adquirir fábricas da Guaporé Carnes em Rondônia, segundo Boni, a JBS foi procurada pelo contador da empresa Guaporé, Nilton do Amaral, para uma reunião.
No encontro Boni relatou a proposta de pagamento de propina ao dono de uma empresa de contabilidade denominada Rio Madeira apresentado apenas como Clodoaldo; e também a Edgar Nilo Tonial, conhecido como Edgar do Boi, atual vice-prefeito de Porto Velho pelo PSDC.
Segundo a delação, os pagamentos foram feitos mediante envio de dinheiro a um banco da filial da JBS em Porto Velho. Um funcionário sacava o dinheiro em espécie e entregava a Clodoaldo. A propina seria repassada a algum fiscal, mas Valdir Boni disse não ter conhecimento de quem seria essa pessoa.
O vice-prefeito de Porto Velho, Edgar do Boi, disse que não vai se pronunciar a respeito até ter acesso aos áudios.
Clodoaldo Andrade, dono da Rio Madeira contabilidade, disse que não pode se pronunciar porque desconhece o teor dos áudios. A reportagem ainda não conseguiu contato com Nilton do Amaral.
Material Publicado pelo site Valor Econômico
Por Kauanna Navarro – A JBS recolhia menos ICMS que o estabelecido por lei referente aos ativos da Guaporé Carnes, em Rondônia, por meio de pagamentos mensais para Edgar Nilo Tonial, o Edgar do Boi, hoje vice-prefeito de Porto Velho. As informações constam no termo de colaboração número 35 da delação de Valdir Aparecido Boni.
Em 2012, a JBS arrendou quatro frigoríficos junto ao grupo Guaporé Carnes em Mato Grosso e em Rondônia. Quando foi fechada a transação, o contador da Guaporé encontrou o delator, Valdir Boni, na sede do Partido Social Democrático Cristão (PSDC), em Porto Velho, com o contador e proprietário de escritório de contabilidade denominado Rio Madeira Contabilidade Empresarial, Clodoado, e o Edgar do Boi. Na reunião ficou acertado que a JBS recolheria menos ICMS e a contrapartida seria o pagamento de um percentual do imposto não recolhido ao Edgar e ao Clodoaldo. Parte do valor da propina seria repassada aos fiscais da Secretaria Estadual de Receita.
A companhia passou a recolher ICMS inflando artificialmente os créditos presumidos e, com isso, diminuindo o valor a recolher. Em paralelo, a companhia passou a pagar uma propina mensal de 30% do ICMS não recolhido.
Do segundo semestre de 2012 até o fim de 2014, foram pagos cerca de R$ 2 milhões em espécie, com entregas mensais. Os montantes eram entregues em mãos a Clodoaldo. O esquema mudou em 2015, quando passou a ser pago por meio de notas emitidas pela empresa Rio Madeira Contabilidade Empresarial, sem contrapartida de prestação de serviços, por meio de TED de empresa a empresa. Nesse período, que durou até agosto de 2015, foram pagos cerca de R$ 1,8 milhão.
Nas tratativas, ficou estabelecido, ainda, que a JBS não seria fiscalizada por essa operação de ICMS pelo período de dois a três anos e, quando o fosse, a fiscalização envolveria a homologação fraudulenta nos lançamentos.
Em agosto de 2015, com as mudanças políticas e a tensão no país, a JBS sinalizou que queria abrir mão do esquema e iniciou um processo gradual para encerrar a sonegação de ICMS. Em dezembro de 2016, Valdir Boni esteve em Porto Velho para tratar com Clodoaldo uma retomada do esquema nos moldes originalmente acordados. Por mensagem de Whatsapp, Clodoaldo solicitou por volta de R$ 2,5 milhões para que fiscais não autuassem a companhia. A propina foi renegociada por Boni e ficou em R$ 1,2 milhão. O pagamento, segundo o delator, está pendente até hoje e ainda é cobrado por Clodoaldo.
Faça um comentário