Hoje vou escrever um pouquinho da história de quatro governadores de Rondônia da era Território Federal com os quais convivi e trabalhei. Vou começar pelo Cel Marques Henrique, (aliás todos eram coronéis, pois, aquela época os Territórios eram governados por militares, sendo o de Rondônia pelos oficiais do Exército, o de Roraima pelos militares da Aeronáutica e, o de Amapá, pelos militares da Marinha. Quando quando aqui cheguei, em fevereiro de 1970, o governador era o Marcos Henrique, pessoa educada e de fino trato. Tive com ele uma relação cordial, de respeito e de amizade. Ficou entusiasmado com a nossa proposta de colonizar o Território e, mesmo com recursos deficitários, sempre apoiou as nossas ações, inclusive, em entrevista ao Alto Madeira, chamou-nos de cientistas. Foi um período de planejamento e de arrumação para o início de nosso trabalho.
Teodorico Gahyva
Marques Henrique foi substituído pelo Cel Teodorico Gahyva, esse sim, de estopim curto e não admitia que o Incra tivesse a importância que tinha e sempre criou dificuldades para a nossa ação. Seu seu Governo durou pouco e foi substituído com o retorno Marques Henrique; voltamos a trabalhar juntos e em paz! Quando veio o Cel Humberto da Silva Guedes senti que esse oficial era inteligente, humilde e competente. Foi assim uma empatia quase automática. Fizemos vários trabalhos juntos e ele sempre visitando o interior e se inteirando dos acontecimentos, diferente de Marques Henrique e Gahyva que raramente saiam de Porto Velho.
Novos municípios
Com o passar do tempo o governador Humberto Guedes comprou a ideia de transformar Território em Estado e de fato muito trabalhou para isso. Um dos primeiros passos foi a criação de mais municípios. Ele sempre questionava: – como vamos criar um Estado com apenas dois municípios? Na época só existiam os municípios de Porto Velho e Guajará-Mirim!
Desafio
Para a criação de mais municípios Guedes solicitou a participação do Incra na formulação das propostas e do estabelecimento das prioridades: estudos acurados recomendaram a criação de quatro municípios. A meta era Ji Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
Susto e alívio
Quando da visita do Ministro do Interior, Rangel Reis, para conhecer a realidade do Território Federal de Rondônia e a proposta de criação de tais municípios, passamos em Nova Ariquemes, que era apenas um grande “acampamento” de agricultores aguardando a liberação de lotes de terra dos Projetos Marechal Dutra e Burareiro. Seguimos para o Projeto Ouro Preto onde seria feita por mim e pelo Guedes, as exposições de motivos para a criação de tais municípios. Guedes estava preocupado com a reação e decisão do Ministro. Quando terminamos as exposições, o Ministro, muito sério, disse: caro colega Agrônomo Assis Canuto é caríssimo governador Guedes: – nós não vamos criar quatro municípios aqui no Território (um calafrio percorreu a minha coluna dorsal e, com certeza, a do Guedes também) Fez-se um silêncio e o ministro diz: faça os estudos e incluam Nova Ariquemes também, vamos criar sim cinco municípios. E assim estava lançada as bases para a estruturação do Território para virar Estado. Esse foi o principal legado do governador Humberto da Silva Guedes: preparou as estruturas iniciais para a criação do Estado de Rondônia, isso é inegável!
Reta final
Já o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o Teixeirão, quando chegou, pegou meio caminho andado, mas, ainda faltava muito. Trabalhador é obcecado como era, convocou todas as forças vivas para o grande projeto de criação do Estado. Otimista, incansável e, ainda, gozando de grande prestígio junto ao Ministro Mario David Andreazza e o Presidente da Republica João Batista de Figueiredo e, mesmo enfrentando a oposição sistemática do então deputado Jeronimo Garcia de Santana, conseguiu realizar o sonho de todos rondonienses. Assim foi criado o nosso Estado! Mercê de tantas dificuldades de início, hoje, esse estado extraordinário e invejável, faz jus a todos que contribuíram para a sua criação! Costumo dizer que, todos nós temos um tijolinho colocado nos alicerces desse Estado. Portanto, cada um teve a sua importância e não seria justo creditar essa vitória apenas aos governantes, pelo contrário – o povo foi o maior responsável por essa hercúlea obra. Os governantes foram importantes, pois, foi através de suas ações e de seus contatos que alcançamos a esse patamar!
Doutor Assis Canuto – Engenheiro agrônomo, deputado federal Constituinte, prefeito de Ji-Paraná, vice-governador e executor do Incra, que coordenou a colonização e a reforma agrária em Rondônia.
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