ADPF das Favelas faz Lula adiar nomeação de ministro para o STF

Analistas políticos estão no caminho errado ao achar que a demora de Lula em indicar o novo ministro do STF tem a ver com a escolha do nome.

 

Roberto Gutierrez –  A demora do presidente Lula em nomear o novo ministro para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal não tem nada a ver com o Congresso, nem com a tese de que o Planalto estaria “testando” Rodrigo Pacheco, como parte dos analistas têm repetido.

 

ADPF das Favelas

O verdadeiro impasse está na ADPF das Favelas, ação de alta sensibilidade social e política, que era relatada por Barroso e, agora, de forma provisória, está nas mãos de Alexandre de Moraes.

Enquanto a maioria dos observadores mira o tabuleiro político, o governo tem os olhos voltados para o alcance das decisões de Moraes — especialmente no que toca à segurança pública. A ADPF das Favelas tem potencial para transbordar do Rio de Janeiro e influenciar políticas estaduais em todo o país.

 

Messias que espere

O nome mais cotado para a vaga é o de Jorge Messias, o preferido do Planalto, visto como terrivelmente fiel e politicamente confiável. Lula, porém, hesitou em nomeá-lo num momento em que as relações com os Estados Unidos estavam estremecidas — um período marcado por ameaças de sobretaxas e por pressões externas em decisões judiciais envolvendo a condenação de Jair Bolsonaro.

 

Consórcio nacional de segurança

Com o cenário internacional mais calmo e os ânimos entre Trump e Lula em fase de distensão, o foco do Planalto agora é interno: a segurança pública. O governo quer centralizar parte das decisões hoje pulverizadas entre os estados, apostando na criação de um consórcio nacional sob supervisão federal.

 

Estratégico

Manter Moraes, mesmo que provisoriamente, com a ADPF das Favelas é estratégico. Ele domina o terreno, tem músculo institucional e goza de legitimidade pública para decisões duras. Um novo ministro, ainda inexperiente, como Messias, entraria em campo sem o mesmo lastro político e jurídico.

 

Evidente

Nos bastidores, a leitura é clara: Lula adia o gesto simbólico da nomeação para não mexer, por enquanto, num tabuleiro ainda instável. A hora de soltar o nome virá — mas só quando o Planalto sentir que a segurança pública e o Supremo estão suficientemente alinhados.

 

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

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