*Tarcísio e o cálculo do poder*

Movimentos silenciosos indicam reacomodação interna no bolsonarismo e revelam tensões sobre quem realmente liderará o projeto presidencial.

Estratégia

O apoio de Tarcísio a Flávio Bolsonaro nos bastidores não é mero gesto de solidariedade política, é cálculo.

Ao insuflar a pré-candidatura de Flávio enquanto evita defendê-la abertamente, Tarcísio sinaliza lealdade ao bolsonarismo sem comprometer sua própria projeção nacional.

Essa ambiguidade preserva sua imagem, evita desgastes e mantém aberto o caminho para assumir o protagonismo caso o cenário mude.

Sucessão

A tentativa de projetar Flávio como presidenciável esconde outro objetivo: reforçar sua posição como potencial vice numa chapa com Tarcísio.

Michelle Bolsonaro, porém, permanece como a favorita da ala emocional do bolsonarismo, enquanto Flávio representa a ala pragmática.

A disputa real, portanto, não é pelo Planalto, mas pelo segundo lugar da chapa, espaço decisivo para controlar o futuro do grupo.

Comando

A palavra final continua com Jair Bolsonaro, cujo poder simbólico permanece intacto, mesmo no presídio da Polícia Federal.

É ele quem arbitra conflitos internos, decide quem sobe e quem desce e define o eixo estratégico do movimento.

Flávio aposta que o pai pode usá-lo como peça de equilíbrio entre Tarcísio e Michelle, mas isso ainda é uma incerteza.

Impacto

A permanência de Flávio como pré-candidato por tempo prolongado trava articulações estaduais.

Governadores e partidos aliados hesitam em firmar compromissos enquanto o desenho nacional não se estabiliza.

Isso pode atrasar coalizões em estados estratégicos e fragilizar o grupo no momento em que deveria consolidar alianças.

Flávio sabe disso e usa o impasse como moeda política para negociar sua própria sobrevivência no núcleo duro do bolsonarismo.

Existe um porém:

A exigência de Flávio renunciar à pré-candidatura à Presidência caso a anistia fosse votada, revela mais sobre sua fragilidade do que sobre sua força dentro do grupo.

A verdade é que não há clima político para aprovar anistia, muito menos para avançar na dosimetria dos processos.

O cálculo no entorno do próprio bolsonarismo é simples: Bolsonaro preso rende mais votos do que Bolsonaro livre.

A prisão produz narrativa, unidade e mobilização — elementos que o bolsonarismo domina como poucos.

A situação guarda semelhança com a fatídica facada de 2018, que tirou Bolsonaro dos debates, blindou-o do confronto direto e o transformou, aos olhos da base, em vítima de um sistema hostil.

Agora, a prisão cumpre função semelhante: alimenta o discurso de perseguição e mantém a militância emocionalmente engajada.

Flávio, ao condicionar sua desistência a uma anistia improvável, expõe o próprio isolamento.

No fundo, seu pedido parece mais um movimento para valorizar seu passe do que uma demanda viável no tabuleiro real.

“Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.”

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*