(Crônica de Roberto Gutierrez) Desconfiado como se tivesse roubado cinco notas na casa da moeda e estivesse na fila da revista para ir embora. Assim era a situação do sujeito na sala de espera para fazer o toque na próstata. De repente, aquela criatura enorme, cuja cintura mais parecia um barril de vinho, o chama pelo nome. Com olhar quase moribundo, a vítima se dirige a uma sala. Lá, outra inferneira que não era uma Úrsula Andress, apesar da boca enorme, o faz colocar um avental cuja parte de abrir ficava pro lado de trás. Desprotegido e sentindo um vento gelado nos países baixos, o elemento é posto para deitar em uma maca em posição de sereia – de ladinho como pescoço esticado pra trás. Depois de quase intermináveis 15 minutos, abre-se a cortina e entra em cena o médico. A mão do hipopótamo era algo descomunal. Imagine a palma de um ex-basqueteiro obeso cujos dedos eram repletos de verrugas. Não bastasse essa aberração, o infeliz sofria de Mal de Parkinson. Após calçar as luvas, e passar o dedo anelar num balde de vaselina, eis que se inicia a operação macabra. O dedo trêmulo acertava todos os lugares, mesmo no ponto objetivo. Após algumas tentativas bionicão mega-ultra-super emplastificado se encaixa. Do lado de fora do hospital se escuta um grito seco igual ao que se escuta na pausa de um Mambo (Ú). No celular da enfermeira tocava Paul Young – Every time you go… A vítima sentiu a lágrima escorrer dos olhos e a merda daquele dedo, que não parava de tremer, buscando a porcaria da próstata. De repente outra enfermeira entra com a bandeja para assepsia e a porta fica semiaberta. De frente à greta um senhor grisalho com bigode a lá Fred Mercury e um poodle de pelagem rosa no colo. Eis que vítima e próxima vítima cruzam olhares. Olhar, uma ova, o sujeito já estava ficando vesgo. O silêncio era rompido pelo sacolejar do anular mesclado a vaselina. Eis que toca o celular do médico a música de Zezé de Camargo e Luciano ♫Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, doeu demais♪. O sujeito não apareceu mais para buscar o resultado, mas dizem que esse exame descobre até se o cabra era veado e não sabia. Eita, maldito Novembro Azul!!!
Ah, tá curioso, é? Nem adianta pedir o endereço do médico.
(Colaborou: Santiago Roa)
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