Ação da braquiária no melhor rendimento de culturas

braquiária-melhor-rendimento
Originária de regiões tropicais da África, a braquiária foi introduzida no Brasil há muitos anos.

Um artigo que relata pesquisas desenvolvidas pela equipe do professor Carlos Alexandre Costa Crusciol, com a colaboração do professor Rogério Peres Soratto, ambos do Departamento de Produção e Melhoramento Vegetal da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, com apoio da Fapesp, foi destacado na revista de divulgação científica CSA News no final de 2015, que apresenta os principais trabalhos publicados nos periódicos vinculados a American Society os Agronomy (ASA), Crop Science Society of America (CSSA) e Soil Science Society of America (SSA).

O artigo, orginalmente publicado na edição novembro/dezembro da revista Agronomy Journal, da ASA, considerada uma das mais renomadas publicações da área agrícola no mundo, trata da análise do potencial da gramínea braquiária (Urochloa brizantha syn. Brachiaria brizantha) como auxiliar no aumento de produtividade de algumas culturas e melhoria das condições do solo.

Originária de regiões tropicais da África, a braquiária foi introduzida no Brasil há muitos anos. Como se espalha com facilidade e é de difícil controle, muitas vezes é tida como planta invasora em áreas de produção de grãos.

No entanto, com um manejo planejado, essa gramínea perene tem características que podem ser exploradas positivamente. É rústica, resistente e tem alta tolerância ao estresse hídrico. Sua capacidade de produção de biomassa também é significativa, chegando a 20 tonelada/hectare de matéria seca por ano. Além disso, sua palha permanece na superfície do solo por mais tempo, o que pode melhorar as condições para as culturas de rendimento subsequentes.

Os experimentos, realizados em áreas de produção da Fazenda Experimental Lageado, em Botucatu, consistiram em cultivos de milho, soja e aveia branca.  Os resultados mostraram que, num período relativamente curto, a inclusão de braquiária consorciada com milho, durante duas temporadas de outono-inverno, em uma rotação de culturas anuais, gerou aumento da fertilidade, melhoria na estrutura do solo e aumento na produtividade.

O artigo publicado no Agronomy Journal trouxe dados mais específicos sobre a melhoria da fertilidade do solo e nutrição das plantas. “Não esperávamos que a introdução da gramínea poderia, em tão pouco tempo, mudar a fertilidade do solo de maneira tão expressiva. As culturas se beneficiaram, com produtividades que variaram de 10 a 15% a mais de produção da grãos, já alcançados no primeiro período pós introdução. Com dois anos de soja na safra e aveia branca na entressafra o incremento de produtividade ficou entre 10 e 20%. A produtividade aumentou por três anos seguidos”, salienta o professor Crusciol. “Essas forrageiras perenes são alternativas para o cultivo na entressafra, quebram o ciclo de pragas, doenças e plantas daninhas e faz com que o uso de pesticidas, fungicidas e herbicidas seja reduzido, diminuindo o impacto ambiental”.

Segundo o professor Crusciol, mais de 50% das áreas de produção de grãos na região central do Brasil não são utilizadas no período de outono, inverno e parte da primavera, ficando à mercê do aparecimento de plantas daninhas. “O que fizemos foi introduzir a braquiária para ocupar a área no inverno. Além de não deixar o solo descoberto, as plantas podem ser utilizadas para a alimentação animal. Elas permanecem verdes mesmo com seca, porque o sistema radicular pode chegar a dois metros dois metros de profundidade e consegue captar água, fornecendo um pasto de excelente qualidade.

Estima-se que o Brasil deixa de ganhar cerca de 1 bilhão de dólares anuais por conta da perda de peso do gado durante o período da seca. “Essa pastagem manteria os animais ganhando peso, além de colaborar para melhorar a fertilidade do solo que beneficia as culturas que entram em sucessão”.

O intenso enraizamento do capim traz outras vantagens ao solo: impede e erosão, promove a descompactação e, por fim, recupera a fertilidade natural com a produção de matéria orgânica. A sustentabilidade do sistema passa inclusive pelo potencial que a braquiária tem de sequestrar carbono. “A gramínea tem grande capacidade de produção de raiz, o que introduz carbono no solo. Dependendo do tipo de manejo, é possível manter esse carbono sequestrado no solo, o que ajuda a mitigar os problemas de emissão de CO2”, explica o professor Crusciol.

O uso da braquiária, planta que era tida como problemática ou daninha, consorciada com outras culturas já tem sido feito pelo agricultor brasileiro, mas não existia uma medição com embasamento científico para comprovar os benefícios provenientes dessa prática. “Acho que isso fez que o trabalho fosse aceito e destacado. Ele o confirma que incluir a braquiária em sistemas de plantio consorciado permite a produção de mais alimentos na mesma área, com benefícios para o meio ambiente e aumento no potencial de lucro do agricultor e podendo ser utilizado por toda a agricultura tropical”.

Após a publicação do artigo, o professor Crusciol já foi contatado por pesquisadores da Alemanha, Índia, Estados Unidos e de países africanos, interessados em mais detalhes. “Raramente um trabalho brasileiro é destacado nesse espaço. Isso mostra que na FCA desenvolvemos pesquisas de qualidade, reconhecidas no exterior como inovadoras”.

Contato do pesquisador
Carlos Alexandre Costa Crusciol
[email protected]

Sergio Santa Rosa

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*