ABr – Em operação conjunta, a Polícia Federal e a Receita Federal, desbaratou nesta segunda-feira (9) uma quadrilha internacional de traficantes de drogas, que transportava cocaína em contêineres para fora do país, principalmente a partir do Porto do Rio, com destino a países da Europa, África e Ásia. Segundo a Polícia Federal a sofisticação da quadrilha chegou ao ponto de, muitas vezes, receber o pagamento pela droga em moedas virtuais criptografadas, principalmente bitcoins.
Deflagrada nas primeiras horas da manhã, a Operação Antigoon mobiliza cerca de 100 policiais federais com o objetivo de cumprir 21 mandados de busca e apreensão e 15 de prisão preventiva, em três dos principais estados da federação: Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.
Embora ainda estivesse em curso, até por volta do meio-dia de hoje 12 pessoas já haviam sido presas, inclusive um casal de empresários que liderava a quadrilha e atuava no ramo de importação e exportação. O casal foi preso pela Polícia Federal em uma mansão localizada em condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. Faziam também parte da quadrilha fiscais aduaneiros e portuários, empresários (alguns dos quais de fachada) e até caminhoneiros.
A ação de hoje, que foi a maior já realizada no estado, teve como base investigação que durou cerca de um ano, período em que, segundo a Polícia Federal, foram apreendidas cerca de 4 toneladas de cocaína já refinada nos portos do Rio de Janeiro; de Vitória; de Santos, em São Paulo; e de Suape, em Pernambuco.
A droga era produzida em países da América do Sul que fazem fronteira com o Brasil (Peru, Colômbia e Bolívia), dos quais era transportada por rodovia, principalmente para o Porto do Rio, “o principal corredor de escoamento da droga para o exterior”.
Ao apontar empresários do ramo de importação e exportação como principais líderes da quadrilha, o chefe da Delegacia de Repressão às Drogas da Polícia Federal, Carlos Eduardo Thomé, disse que a droga era “contaminada” em cargas que levantavam pouca suspeita, como produtos destinados à construção, ferro e borracha, principalmente.
“Os principais líderes da quadrilha presa hoje são empresários do ramo de exportação e importação. Essa quadrilha tinha seus braços na Europa, onde mantinha contatos com traficantes europeus e adquiria a droga em países produtores na América do Sul. São profissionais que não atuam no abastecimento do tráfico nas comunidades do Rio de Janeiro. A droga vinha por rodovias, chegava aos portos, principalmente o do Rio, que vinha servindo como corredor de escoamento da droga para os países de destino. Embora a droga também fosse exportada para a África e para a Ásia, o principal alvo deles era mesmo a Europa”, afirmou o delegado.
Thomé informou que caminhões que transportavam contêineres para o porto eram desviados no meio do caminho de sua rota original “para que os lacres fossem violados para que se desse a contaminação dos contêineres”. Depois, a carga era redirecionada para o destino original, o porto.
De acordo com o delegado, o objetivo da Polícia Federal agora é mirar a descapitalização da quadrilha. “Porque somente com a descapitalização deste braço criminoso é que nós poderemos desbaratar esta quadrilha. São empresários que atuam no mercado de importação e exportação, ou que criam empresas de fachada com o objetivo da escoar a droga sem levantar suspeita”, disse.
Ainda segundo o delegado, o destino da droga foi identificado em um trabalho conjunto com a polícia dos países envolvidos, de modo a permitir “a desarticulação do braço da quadrilha no exterior”.
Carlos Eduardo Thomé disse que a intensificação dos trabalhos da Polícia Federal já possibilitou, só nos primeiros meses deste, a apreensão de 32 toneladas de cocaína no Brasil, 15 toneladas das quais que estavam sendo escoadas por via marítima.
O volume é quase a metade das 48 toneladas que foram apreendidas ao longo de todo o ano passado, das quais 17 eram transportadas na modalidade marítima. “Os maiores casos de apreensão de cocaína no país com destino ao exterior vêm acontecendo no modal marítimo, em razão do rigor existente nos aeroportos e da maior capacidade de transporte da droga via modal marítimo a partir da utilização de contêineres”, acrescentou o delegado.
As investigações contaram com o apoio de institutos de cooperação policial internacional para a difusão do conhecimento dos países envolvidos, que também possibilitaram apreensões nos portos de Antuérpia, na Bélgica; Gioia Tauro, na Itália; e Valência, na Espanha.
A cooperação se deu por intermédio dos adidos da Polícia Federal no exterior, bem como dos representantes das polícias estrangeiras que atuam no Brasil. Os investigados responderão, na medida de suas responsabilidades, por tráfico transnacional de drogas e associação para o tráfico. As penas podem chegar a 25 anos de reclusão.
O nome da operação, Antigoon, é uma referência a uma lenda sobre a origem do nome da cidade de Antuérpia, principal destino da droga na Europa. Segundo a lenda, um gigante chamado Antigoon cobrava valores de quem atravessasse o Rio Escalda e cortava uma das mãos daqueles que se recusassem a pagar. Antigoon foi morto por um jovem chamado Brabo, que cortou a mão do próprio gigante e atirou-a ao rio. Daí o nome Antwerpen; do holandês hand (mão) e wearpan (arremessar).
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