Coluna DIOGO SCHELP – A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão do Ministério da Saúde, emitiu parecer favorável ao desenvolvimento de uma pesquisa com nitazoxanida 600 mg, um vermífugo conhecido pelo nome comercial Annita, para o tratamento de pacientes com covid-19. A droga é apontada como o remédio “secreto” mencionado nesta quarta-feira (15) por Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, como aposta para encontrar uma cura para a doença. O parecer da Conep foi aprovado um dia antes, na terça-feira (14), e refere-se a uma pesquisa solicitada pelo médico Florentino Cardoso, diretor executivo da Hospital Care, uma rede de hospitais pertencente à antiga Bozano (atual Crescera), gestora de “private equity” que até 2018 tinha Paulo Guedes, o atual ministro da Economia, como sócio. A reportagem tentou contato com o Dr. Florentino Cardoso, mas não obteve resposta.
A instituição onde o teste será realizado é o Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), uma das unidades da holding Hospital Care, e a patrocinadora do estudo é o laboratório Farmoquímica, do Rio de Janeiro, que fabrica o Annita. O estudo prevê ensaio clínico com 50 participantes, com “duração de aproximadamente 21 dias por participante, sendo 07 dias de tratamento/acompanhamento e 14 dias de follow-up clínico”. Uma parte dos participantes, todos pacientes com covid-19 em estado não crítico, receberão a nitazoxanida 600 mg, e outra parte um placebo. A previsão é que o estudo seja concluído em setembro deste ano.
No anúncio feito por Marcos Pontes nesta quarta-feira (15), os testes in vitro com o remédio “secreto” foram realizados pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais em Campinas (SP) e a partir deste mês ele será testado em 500 pacientes em sete hospitais das Forças Armadas. No mesmo dia, em entrevista coletiva, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que Pontes tratou com ele sobre os testes com um vermífugo que se provou eficiente in vitro contra o novo coronavírus. Todas as informações disponibilizadas por Pontes e Mandetta apontam para a nitazoxanida, um antiparasitário de amplo espectro. Mandetta deixou claro que o fato de ser eficaz in vitro não significa que o remédio será capaz de combater o vírus no corpo humano. Essa é a principal crítica que a comunidade científica está fazendo a Pontes, por dar falsas esperanças a respeito de uma droga que sequer foi testada em ensaio clínico. Pontes alegou que manteria em segredo o nome de remédio para não provocar uma corrida às farmácias, mas deu tantas dicas que ficou claro do que se tratava. Na própria quarta-feira (15), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu a nitazoxanida na lista de remédios controlados. Os médicos alertam à população que todo medicamento pode ter efeitos colaterais e que não se deve fazer automedicação com Annita para tratar covid-19.
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