Uma história de amor com Ji-Paraná, assim era Zé Otônio, que fez fortuna e se dedicou à vida pública mesmo sem um mandato.
Roberto Gutierrez
Folha de Rondônia News
Morre aos 79 anos idade uma das maiores personalidades da história regional de Rondônia: o ex-vice-prefeito José Otônio Lima Silva, o Zé Otônio, que nos primórdios da década de 1960 era conhecido como Otônio da Ecopel, do tempo que comprava couro de caça, castanha e borracha dos seringueiros.
Zé Otônio foi ao hospital, recebeu medicação e pediu para voltar para casa. Por volta das três horas da madrugada de hoje o coração do pioneiro parou de bater. O velório de corpo presente começa na tarde de hoje no Esporte Clube Vera Cruz, em Ji-Paraná. O enterro será neste sábado. O cenário da despedida é o clube o qual ele demoliu e construiu uma grande estrutura que se tornou palco de grandes festas e dos maiores carnavais de clube do Interior de Rondônia.
Rondônia foi um convite do Irmão mais velho
Zé Otônio veio para Rondônia em meados dos anos 1960 a convite do irmão mais velho, Odimar Lima Silva, que era dono da Ecopel, grande comprador de borracha, couro de caça e castanha. Odimar gerenciava ainda a Probraz uma empresa de Porto Velho que vendia produtos elétricos e eletrônicos.
Otônio da Ecopel
Zé trabalhava com um caminhão comprando produtos extrativistas enquanto na Vila de Rondônia, Abel Neves gerenciava o depósito da Ecopel da Vila. Abel Neves foi o primeiro administrador da Vila de Rondônia (hoje é nome da Câmara dos Vereadores).
Já na década de 1970, Logo depois de ter passado um tempo puxando combustível, Zé Otônio havia comprado um terreno do Fernandão no bairro Dois de Abril, construiu um posto de gasolina. Foi quando chegaram os irmãos Odílio e Zé Olímpio, esse falecido em dezembro de 2020. Zé Olímpio era irmão gêmeo de Zé Otônio.
Aliás, Zé Otônio nasceu em Russas, interior do Cerará em 03 de dezembro de 1942, filho de Dona Teresa e seu Raimundo Lima Silva os quais tiveram oito filhos. Com a morte de Zé Otônio ficam Maria, que mora no Ceará, Osmar, militar aposentado que mora no Rio de Janeiro e o filho caçula da família, Odílio Lima Silva, dono do Posto Fortaleza e morador de Ji-Paraná.
Amor por Ji-Paraná
Foi muito amor por Ji-Paraná, somado à realidade de um menino de infância pobre no Ceará que o motivaram a fazer algo diferente. Foi Zé Otônio quem deu luzes ao sentido do Natal quando em Rondônia o espírito natalino ainda não ganhava as ruas com luzes e ornamentações.
Durantes muitos anos o presépio gigante dos Postos Vitória povoava a imaginação das crianças, como se fizesse lembrar aos imigrantes que era Natal, que este pedaço de Brasil poderia ser tão interessante quando à terra natal dos que para essas paragens aventuraram.
O presépio do Zé deixou de acontecer por uma imposição proposta pelo Ministério Público quanto ao risco de acidente por estar numa área de combustível. Nesse momento Ji-Paraná enfeitava as ruas e as Mulheres de Negócio já haviam inaugurado a Casa do Papai Noel. Na mesma época, iniciativas idênticas se espalhavam pelas cidades de Rondônia sendo enfeitadas no Natal. Mas o começo de tudo surgiu com a dedicação de Zé Otônio.
Zé Otônio foi convencido de que poderia ser prefeito de Ji-Paraná. Por duas vezes disputou a prefeitura ficando em segunda colocação. O ainda desconhecido Jesualdo Pires foi o vice. Foi quanto do retorno de Bianco a uma disputa política municipal, que Zé se tornou o Vice-Prefeito de José Bianco. E por muitas vezes assumiu a administração.
“Zé tinha uma preocupação tão grande com Ji-Paraná, um carinho tão especial que, muitas vezes deixava de encomendar algo mais barato fora para comprar em Ji-Paraná dizendo que precisava fazer o dinheiro circular na cidade”, revelou o irmão caçula, empresário Odílio.
Nove Postos de Combustíveis, muitas propriedades urbanas, dois hotéis, a primeira distribuidora de gás desde os tempos da Vila de Rondônia. Esses eram alguns do empreendimentos de Zé Otônio que tinha um amor incondicional por Ji-Paraná.
Revelações do editor
Tive o privilégio de ter amizade com Zé Otônio, que era um grande contador de histórias e, pasmem que não conhecia Zé na intimidade: era humorista nato. Fazia muitas imitações. Uma das pessoas ele adorava imitar era Wellington Mendes, filho do seu Clodomir Amiguinho, ambos já falecidos.
Zé tinha talento artístico assim como o irmão Odílio que é um excelente cantor. No caso do Zé, era o talento de compositor. Ele fez o hino do Vera Cruz e mais outras composições.
Primeiro par de sapatos
Numa dessas boas rodas de cerveja no boteco da dona Maria, esposa do Luiz Defunto, Zé me contou que o primeiro sapato que teve na vida, ganhou quando tinha 16 anos de idade. Ele tinha que ir a uma festa e não podia faltar, o outro irmão dele, o gêmeo Olímpio, também tinha um compromisso inadiável. A solução foi que cada um iria com o lado do par do sapado e faria um curativo no dedo do outro pé para justificar o porquê estava com um sapato e uma sandália. Zé contou isso rindo, mas, se revelava aí sua capacidade do saber valorizar as coisas conquistadas e o de compreender o sofrimento do outro.
Certa vez Zé estava no pátio do posto, quando chega um caminhão tanque e estaciona. O senhor não vai descarregar o combustível, (?) perguntou o Zé. – Eu não, respondeu o motorista. Se quiser, faz você. Zé Otônio, sem reclamar, descarregou o combustível. Daí, Valdemar Camata que ouvia a história perguntou: por que você fez isso, Zé? Porque na hora que ele fosse receber eu estaria lá para atende-lo na condição de dono do posto. (Até hoje estou tentando imaginar a cara de tacho desse motorista).
Condolências
Senador Acir Gurgacz
É com profundo pesar que lamentamos o falecimento do empresário e ex-prefeito e vice-prefeito de Ji-Paraná, José Otônio Lima Silva, nosso querido amigo Zé Otônio. Pioneiro de Rondônia, Zé Otônio foi uma personalidade de grande importância no desenvolvimento do município de Ji-Paraná. Que a sua luz, que brilhou entre nós durante décadas, e que se materializou nas iluminações natalinas a qual tanto se dedicava, continue brilhando e nos iluminando. Perdemos um amigo, querido por todos, e um companheiro de luta que sempre nos motivou em trabalhar pelos que mais precisam e por nossa cidade. Valeu Zé Otônio, Ji-Paraná te deve gratidão eterna. Manifesto também minha solidariedade aos familiares e amigos, rogando a Deus que conforte a todos nesse momento de dor.
Dapenha Almeida
Meu grande amigo, meu patrão me deu muitas oportunidades em sua empresa. Trabalhei com ele de 1983 até o ano de 2000. Trabalhei como frentista, sub gerente, gerente, buscava e levava seus filhos menores navescola. mecânico de bombas de combustível. Sou grato a Deus por ter trabalhado com meu amigo Zé Otonio. Sentir muito por não poder estar aí lado dele nos últimos momentos, não me encontrava no estado de Rondônia. Que Deus abençoe todos familiares, meu pesar a toda família. Sinceramente, Enio Alves