
- O que se viu esta semana praticado por deputados e senadores é crime e pode ser caracterizado como tentativa de golpe no Parlamento.
Crime sem castigo
*Roberto Gutierrez – Muita gente pode dizer que seja exagero da minha parte, mas, o que se viu esta semana no Congresso Nacional praticado por deputados e senadores, é crime e pode ser caracterizado como uma tentativa de golpe no Parlamento Brasileiro. O comportamento de alguns parlamentares nesse episódio dá suspensão de mandato e até cassação. Esse empoderamento baseado na ignorância de quem não entende a aplicabilidade das leis, que ignora a constituição, o código penal e o código civil acabam se materializando na essência dos “podres poderes” – parafraseando Caetano Veloso.
A mentira…
Curioso foi ver o Líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, dizer como foi construído o “acordo” com o presidente da Câmara Hugo Motta, de que seria pautado o fim do fórum privilegiado (para que parlamentares não caíssem mais nas mãos do STF e que fossem julgados em instância comuns) o impeachment do ministro Alexandre de Moraes e a anistia ampla e irestrita dos condenados de 8 de janeiro.
…desmentida
Essa história ganhou as redes sociais como uma suposta vitória dos “guerreiros deputados” reacionários, e que foi desmentida em seguida pelo próprio presidente Hugo Motta.
Desmoralizado pelos fatos, ontem, Sóstenes Cavalcante foi aos repórteres para dizer que não havia dito, o que na verdade havia dito. (isso lembra Zeca Diabo – personagem de Dias Gomes em O Bem Amado).
Tudo por engajamentos
A mentira dita leva a entender que foi uma forma de contar alguma vantagem nas redes sociais sobre o porquê tiveram que juntar a traia, desarmar a barraca e liberar os trabalhos da casa.
Alerta vermelho
Eles não contaram o motivo pelo qual tiveram que desocupar a mesa da presidência da Câmara, mas, contaram algo para dizer que saíram vitoriosos. Na verdade eles foram informados que estavam cometendo crime e poderia sobrar pra cabeça.
Abuso à inteligência humana
De repente, Sóstenes diz aos repórteres sobre o desmentido do mentido, de que não é prática da Direita chantagear ninguém. Ora bolas, passaram dois dias impedindo os trabalhos na Câmara sob argumento de que só sairiam se as pautas que eles queriam fossem atendidas. Se isso não for chantagem, Sóstenes teria banido o significado desta palavra do dicionário!
Depois que Hugo Motta foi à imprensa para dizer que não fez acordo algum, que não negocia suas prerrogativas de presidente e que vai tomar providências com relação aos parlamentares que impediram o funcionamento da casa, Sóstenes Cavalcante teve que contar outra história.
Para justificar o que disse, que disse que não disse (rsrsrs), afirmou que os líderes dos partidos que participaram do movimento vão pautar o fim do fórum privilegiado e o projeto da anistia.
Sóstenes, Sóstenes, Sóstenes, pautar projetos é prerrogativa do presidente Hugo Motta. Até porque, se fosse prerrogativa dos líderes colocar qualquer matéria em pauta, não precisaria fazer o que os senhores fizeram durante dois dias na Câmara, né mesmo!?
Corte seco (thwack) Tramontina!
No senado, o presidente Davi Alcolumbre acabou com a festa dos amordaçados. Ele foi curto e grosso: “Se até amanhã, às 18 horas, a mesa do Senado não estiver liberada, a polícia legislativa vai prender quem estiver lá. Vocês estão agredindo a constituição.”
Orelhas murchas
O senador Eduardo Girão teria encrespado com a decisão. Assim, Alcolumbre disse: “se o senhor continuar a violar as regras da constituição, eu me encarrego pessoalmente da sua cassação.”
Não ficou ninguém para contar a história. Nesse tal de, eu sou ‘excelência’, senadores tentaram voltar a falar com o presidente do senado, ele não recebeu mais ninguém e ponto final.
Contador de vantagens
Já o senador Rogério Marinho, líder do PL, disse ter conseguido 41 assinaturas para o pedido de afastamento do ministro Alexandre de Moraes. O presidente Davi Alcolumbre disse: “nem que vocês me tragam 80 assinaturas eu vou pautar o impeachment.”
Tudo planejado
Significa dizer que toda pressão feita, inclusive, com cometimento de crime por parte de parlamentares de extrema-direita, serviu para alimentar as redes sociais com bravatas, meias verdades, algumas mentiras, mas, o principal de tudo é o de enfraquecer as instituições diante da opinião pública com a artimanha dos podres poderes.
Futuro imprevisível
Quando foi promulgada a constituição brasileira em 1988, se alguém dissesse que no ano 2025 um monte de parlamentar se amordaçaria com fita crepe para pedir anistia a golpistas, afastamento de ministro do Supremo e para abrir mão do direito de fórum privilegiado para fugir da suprema corte, esse alguém seria chamado de louco.
*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista.
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