A batalha que o PT precisa travar não é eleitoral, é simbólica

O combate é contra isso: Não há reflexão, não há profundidade, há apenas um fluxo contínuo de medo embalado como opinião. E funciona. Funciona porque mexe com aquilo que o algoritmo mais ama: emoção negativa.

 

Roberto Gutierrez – Há um erro de cálculo na política brasileira que insiste em se repetir: imaginar que o PT perde por falta de projeto. Não é isso. O partido nunca sofreu de anemia programática — sempre teve propostas sociais, políticas públicas concretas, e uma biografia que se escreve com suor, universidade, comida na mesa e cidadania.

 

Industrial da desinformação

O problema do PT hoje tem outro nome: percepção pública deformada por uma usina industrial de desinformação criada pela extrema-direita. E não adianta fingir que essa máquina não existe. Ela está aí, ativa, produzindo fantasmas, espantalhos ideológicos e indignações prontas para consumo imediato.

 

Eureca da conspiração

A extrema-direita descobriu a fórmula da política digital: misturar comunismo de desenho animado com bandeiras LGBT, botar um inimigo imaginário no centro da equação e entregar isso como se fosse diagnóstico do país. Não há reflexão, não há profundidade, há apenas um fluxo contínuo de medo embalado como opinião. E funciona. Funciona porque mexe com aquilo que o algoritmo mais ama: emoção negativa.

 

Dois mundos

É por isso que o lulismo segue forte no mundo real e frágil no mundo virtual. No asfalto, Lula é memória viva, é história concreta, é gente que sabe de onde veio e para onde não quer voltar. Mas no ambiente digital, onde o bolsonarismo profissionalizou o pânico moral, o PT vira caricatura.

 

Por um triz

O Brasil viveu isso recentemente. A democracia, sim, esteve por um triz. Não foi metáfora. Houve plano, houve dinheiro, houve articulação. E mesmo assim, parte da população ainda acha que quem queria fechar Congresso e Supremo era quem governava, tamanha a distorção plantada no imaginário coletivo.

 

Povo ruim de serviço

A extrema-direita é ruim de serviço, mas é boa de narrativa. Não entrega obra, mas entrega fórmula. Não melhora a vida das pessoas, mas sabe como criar indignação instantânea. É marketing político com cheiro de pólvora. E enquanto isso, o PT, com todos os seus acertos e também seus erros, insiste em comunicar como se estivéssemos em 2002, quando bastava falar que o país iria melhorar. Hoje, ou se disputa a imaginação das pessoas, ou se perde o debate antes mesmo de começar.

 

Essência humana

O PT tem um trunfo: a esquerda no Brasil sempre foi, e continua sendo, o espaço onde a dignidade humana encontra guarida. Não é questão de perfeição, é de vocação histórica. Mas essa vocação precisa conversar com o país real, e também com o país virtual, porque o segundo já influencia o primeiro de um modo que não dá mais para ignorar.

 

Batalha simbólica

Se o partido quiser apontar para o pós-Lula, precisa travar uma batalha que não é apenas eleitoral, mas simbólica. Reocupar a narrativa, recuperar o vocabulário sequestrado, desmontar a fábrica de fake news antes que ela continue moldando gerações inteiras de cidadãos indignados sem saber o por quê.

“O Brasil não será salvo por um algoritmo. Será salvo por gente. E, gostem ou não, até agora, quem mais se preocupou com gente foi a esquerda.” Roberto Gutierrez.

 

*Roberto Gutierrez é jornalista. Na comunicação desde outubro de 1976, passou por todas as mídias e há quase três décadas é editorialista e analista político.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*