‘Acunhado’ – Conselho decide pela cassação de Eduardo Cunha

Fim? Perda do mandato ainda depende do plenário; serão necessários votos 257 de 512 deputados
Fim? Perda do mandato ainda depende do plenário; serão necessários votos 257 de 512 deputados

Brasília. No processo mais longo de sua história – oito meses após a apresentação da denúncia –, o Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem por margem apertada parecer favorável à cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já afastado de suas funções desde o dia 5 de maio.

Por 11 votos a 9 e após muito bate-boca, o colegiado corroborou o relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), para quem não faltam provas de que Cunha quebrou o decoro parlamentar ao omitir a existência de contas no exterior que, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), foram abastecidas em parte com dinheiro desviado da Petrobras.

Cunha só perderá o mandato, porém, caso o plenário da Câmara confirme o parecer do Conselho com o voto de pelo menos 257 dos seus 512 colegas. A votação é aberta, e deputados afirmam que não deve ocorrer em menos de três semanas, devido aos prazos de publicação do resultado e de recurso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

O voto decisivo foi dado pela deputada Tia Eron (PRB-BA), que sofreu intensa pressão nos últimos dias, faltou à sessão de votação na semana passada e era considerada pelos aliados de Cunha como apoio certo para salvar o mandato do peemedebista. “Não posso absolver o representado. Quero votar sim com o relatório”, disse Tia Eron ao votar.

O deputado Wladimir Costa (SD-PA), um dos mais ardorosos defensores de Cunha, mudou o voto na última hora e apoiou a cassação após a decisão de Tia Eron. O voto dele surpreendeu todo o Conselho e evitou o voto de minerva, que caberia ao presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA).

Momentos antes do anúncio da deputada Tia Eron, Wladimir Costa ainda fazia a defesa do presidente afastado da Câmara, afirmando que ele foi o grande responsável pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e chamando os petistas de “vagabundos”.

Para parte dos conselheiros, o posicionamento de Costa foi uma “carona” no voto de Tia Eron, que era o mais esperado, já que estava sendo considerado decisivo para o destino de Cunha. Costa nega. “Não tem nada a ver com a Tia Eron. Por volta das 17h, já tinha informado no grupo (de WhatsApp) do Solidariedade que eu iria votar contra o Cunha. Me antecipei ao voto dela”.

Na mensagem enviada ao grupo, às 16h34, da bancada do Solidariedade da Câmara, o deputado pediu desculpas e disse saber que uma minoria no partido ficaria “frustrada” com o voto dele.

Durante sua exposição final, o relator Marcos Rogério rejeitou a possibilidade de aditamento ao processo e o voto em separado que pedia apenas uma suspensão do mandato por 90 dias, mantendo assim a íntegra de seu parecer. O relator falou que o escândalo é o maior que o colegiado já julgou, uma “trama para mascarar uma sucessão de crimes”.

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