As Aventuras de Charles Peter  – “Tu num se lasca nunca, berolo?”

*Carlos Macena – “O emprego tinha me despachado pra trás. Contrapromoção: chutaram-me, digo, por interessse da casa, deixei Limeira, Piracicaba, Campinas, Analândia, São Roque, Brotas, aquelas horrorosas cidades do faminto sertão paulista – ainda que o agreste temperado houvera permitido por décadas a fio que se entrelaçassem os cento e trinta quilômetros quadrados de cana da Usina São João, lindeiros aos cento e quarenta quilômetros quadrados de laranja da Citrosuco, pertim, sô, dos cento e trinta quilômetros quadrados do dinástico café Dumont de origem, hoje Salles pelo fluir gentil da opulência à sua descendência.”
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“Enfim, após seis anos de flagelo no proto-sertão caipira, eis-me pra trás, cara a cara com a trepidante metrópole, capital mundial da cocaína, repositório dos seiscentos e cinquenta milhões de reais em royalties pagos na primeira década das quatro tratadas pela GDK só por uma das duas UHEs do Complexo do Madeira – morto de ancho, tudo pago pela corporação, morando dignamente, tudo corria como 2020 supúnhamos que o fosse, até que, num dia de estresse doméstico máximo, troou:
– Carlos Pedro, eu não te amo mais.”
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“Lógico. Cinco meses internado na franquia Morro Grande, a 14.000 por mês, a gata índia, 27, solta com a Titan CG 160, moeu com areia. Morram de despeito, catifundas e mocorongas: de Limeira, acionou a via rede informacional subterrânea feminina mais eficaz que qualquer “dark web” e descolou, simultâneos:”
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“Capturou, casado mas morto de fofo, coach do Bob Esponja, pastor de corais, encantador de anêmonas, mergulhador YouTuber da Petrobras e, dado o êxito do Modo SME ativado, garimpou, melhor diria, deslizou pela SP-147 e, entre um e outro dos penosos rolés de domingo pra encenar o asco apaixonado pelo mentecapto oligofrênico custodiado, a Mamaindê cujo TCC me fez trazê-la a São Paulo na vibe de “fazer uma pós-” em Antropologia na Unicamp com base na tetralogia de Claude Lévi-Strauss sobre os Nhambiquaras, nação-mãe da qual os mamaindê são órfãos, dissimulou-se o suficiente. Como diria Frost, “enough to suffice”.
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“Eras primevas, quando a pouco chegáramos a Limeira, antes do cárcere esquizo, ela descobriu, para seu mudo desgosto, que, em alemão original, eram só quatro dos onze volumes da pré-bibliografia. Ambição amputada, se se deu por achada doesn´t matter anymore.”
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“Segue o bonde. Prego na tranca, diving Youtuber arriscando ser arpoado pela mulé, a Titanzinha, veloz e alerta, beliscou-a. Lesta, lisa e gaiata, calculou bem: de São Roque ao Arpoador é mais perto que de Ipojuca a Nanuqu, Nem hesitou: inadjetivável trança, irresistível aventura, “moderato cantabile”, rolou sei lá por onde, o barro da bota nçao era de horta, entontecida por ninguém menos que um “spalla” da Filarmônica de Viena, de cachinhos à Judy Garland e olhos dum “sparkling blue” matador, esquecida, tolinha, das Valkirias que o aguardavam nos saguões de Gatwick, Malpensa e Trieste, rumo às tórridas temporadas líricas dos Bourbon, Habsburgos e Krahenbühl, em Salzburgo, Budapeste e Linz. Perco pra prego não. Data: Natal de 2019″.
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“Cartório Carvajal, março de 2020, lágrimas suspensas e ódio mudo das cartorárias, ‘eu te amei muito, Carlos Pedro’. Assinei mais impávido que George Foreman em Kinshasa.”
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“Esse é o entrecho (o pior vocês não perderam) dum dos quatro bemsucedidos. Na próxima, fechado patuleia, entro de testa com a loirinha “mosca branca” que parou a escadaria do Municipal na estreia de Blanca Del Rey.

 

*Carlos Pedro Macena é de Brasília (DF), 61 anos, graduado em Jornalismo pela USP/1989. Ex-Diretor da Afiliada Globo m Vilhena, ex-repórter de Política da “Folha de Rondônia”, Chefe de Reportagem do “Diário da Amazônia”, Assessor de Imprensa do Detran-RO. Trabalhou na Editora Abril, no Grupo Folhas e 11 anos no Banco do Brasil. Atualmente, só pesca e mente.

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