Na política, a disputa por autoria é vã – coluna do Gutierrez

Não há “pai” ou “mãe” de coisa pública, existem, sim, quem as bancam, quem as tornam possível: o povo, seu legitimo autor e beneficiário.

A apropriação de ideias, projetos e feitos por parte de quem não as conceberam, elaborou ou realizou é um fato corriqueiro entre os políticos brasileiros, como se o poder público não fosse pauta da imprensa e das redes sociais.

A ideia de que os políticos são donos das coisas e anunciá-las como se isso fosse verdade tem sido uma estratégia recorrente nos parlamentares e gestores públicos desde sempre. Isso foi potencializado muito com o advento da internet, das plataformas digitais e do WhatsApp, com suas capacidades de se alastrarem como rastilho de pólvora. No caminho, a informação publicada vai produzindo reações variadas e construindo verdades que nem sempre se confirmam.

Achar que, ao anunciar uma obra, uma ação ou um movimento que tenha sido viabilizado, provocado ou apoiado por ele o faz mais qualificado, mais articulado e, sobretudo, com mais poder do que os demais políticos, é infundado e imaturo. Além disso, o que é anunciado não é fato consumado.

No espaço público, o que é planejado nem sempre é possível de ser executado. O anúncio de uma obra ou um projeto, é a etapa mais frágil do processo, embora pareça, para alguns, a mais atraente e a de maior retorno político. Este parece ser razão maior para que os políticos tenham imagens tão desgastadas junto à opinião pública. O que há de mais frustrante do que criar expectativas, que não serão atendidas, em milhares de pessoas?

Se o anúncio de coisas no espaço público é algo de resultado duvidoso, pior é quando se cria no senso comum a ideia de que é anunciado algo que não pertence a quem a anuncia, ou que lhe pertence parcialmente, ou que já foi prioridade sua mas não é mais e foi efetivada por outro ou outra. Mais grave ainda é quando o anúncio da coisa estabelece uma “guerra por paternidade” envolvendo vários agentes públicos, dos mais variados partidos, das mais variadas correntes e até de gradação diferente da esfera que decide executar a ação. Isto é, ação da esfera federal apropriada por agentes estaduais e municipais.

Além de não contribuir para a construção de consciência cidadã, quando esclarecida a verdadeira autoria, esta prática reforça a tese, no povo, de que a pratica da verdade inteira incomoda aos políticos.

A agenda política no estado de Rondônia tem resvalada para uma subliminar disputa por autorias de coisas gestadas na esfera federal, em que apenas os agentes que ocupam este espaço podem se apropriar. Não que isso seja novo por aqui, mas o momento não é mais propicio para tal prática, pois ela é logo descoberta pela presença ostensiva dos meios de comunicação – e pelo bom senso.

Portanto, a disputa pela autoria, quando ocorre, é uma indicação inequívoca que há algo errado com o objeto da disputa ou com os supostos autores, ou com as duas coisas. Não há “pai” ou “mãe” de coisa pública, existem, sim, quem as bancam, quem as tornam possível: o povo, seu legitimo autor e beneficiário.

(Roberto Gutierrez)

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