O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta terça-feira (15) não acreditar que a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um posto estratégico do governo resolva os problemas de diálogo que o Palácio do Planalto enfrenta com a base aliada no Congresso Nacional.
“A deterioração da base do governo já está em um tal nível que é difícil uma reversão. A tendência é só perder, não tem o que ganhar. Acho que não tem mais ninguém que possa chegar e mudar essa relação. Estamos em crise política e econômica, agravada a cada dia por novas denúncias”, afirmou o peemedebista.
Ele mencionou a instabilidade e os altos índices de traições registrados entre os deputados em votações na Câmara. “Integrantes de muitos partidos da base não acompanham seus líderes nas votações. Isso é um processo continuado. Não vai mudar a relação”, avaliou.
Segundo ele, o impeachment de Dilma vai seguir a tramitação normal ainda que Lula assuma um cargo no governo, seja ele qual for.
Critico de delações premiadas, Cunha evitou atacar a delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), homologada nesta terça pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, sobre o esquema de corrupção da Petrobras à força-tarefa da Operação Lava Jato.
O presidente da Câmara chegou a ser citado no acordo de colaboração do senador petista, que o chamou de “menino de recados” do banqueiro André Esteves em assuntos de interesse do Banco BTG.
Sobre isso, Cunha afirmou que a citação é “genérica” e um “adjetivo”. “Ele [André Esteves], como vários outros como Trabuco, Setúbal, os presidentes dos grandes bancos, tenho o hábito, tinha o hábito de manter diálogo. Não tenho nenhuma vergonha disso. Absolutamente normal. Faz parte da nossa função”, afirmou.
Apesar de minimizar o trecho em que é mencionado, o peemedebista fez questão de classificar como “gravíssimo” o áudio entregue pelo senador petista à PGR (Procuradoria-Geral da República) no qual o ministro da Educação, Aloizio Mercadante conversa com um dos assessores de Delcídio e oferece ajuda financeira e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para soltá-lo.
“Com relação a esse episódio do ministro Mercadante, o fato mais grave é que não se trata somente de delação, se trata de gravação. Tem a gravação com a voz e com as acusações que estão contidas dos atos”.
Questionado se a delação de Delcídio abre espaço para que se investigue membros do governo, Cunha disse apenas: “Sua pergunta é uma conclusão”.
IMPEACHMENT
Cunha passou o dia reunido com aliados e líderes partidários tratando dos ritos do impeachment. Sua preocupação é manter o quorum na Casa de segunda à sexta. Já conseguiu garantir da oposição e da ala rebelada do PMDB, apoiadora da saída de Dilma, que haverá pelo menos 51 deputados na Câmara todos os dias.
Isso porque os trâmites da comissão especial do impeachment, que Cunha pretende instalar logo após o término do julgamento do Supremo, que começa na quarta (16), são contabilizados em sessões plenárias, não em dias úteis ou corridos. Daí a necessidade de haver deputados em Brasília, com presença registrada.
Nesta tarde, Cunha afirmou que tomará todos os cuidados para não deixar que o processo de impeachment seja novamente judicializado. O PCdoB, aliado ferrenho de Dilma, recorreu ao STF em dezembro contra o rito imposto pelo peemedebista. Foi isso que travou o processo. Desta vez, a estratégia dos cunhistas é analisar cada passo e não deixar brechas para a equipe jurídica petista.
“Não praticarei qualquer ato que possa ensejar uma nulidade futura. Tomarei muito cuidado para preservar a legalidade, o regimento, as leis e, principalmente, a decisão que o supremo terminar de proferir amanhã”, disse Cunha.
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