Em entrevista coletiva, Cunha diz que não vai renunciar ao cargo

Cunha afastado falou por mais de uma hora e afirmou que está tendo o direito de defesa cerceado

O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concedeu entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (21) no Hotel Nacional, em Brasília, e afirmou que não vai renunciar ao cargo.

Cunha começou afirmando que está tendo o direito de defesa cerceado. “Tenho restringido [a comunicação] à notas ou manifestações no Twitter. Isto tem prejudicado muito minha versão dos fatos como também a comunicação. Resolvi voltar com regularidade prestar satisfações, eu mesmo me expor ao debate, às entrevistas porque isto está me prejudicando. Há um nítido cerceamento de defesa meu”, disse nos primeiros minutos da entrevista.

Veja outros pontos da entrevista:

Trajetória:

Cunha lembrou sua trajetória política e a sua posição em relação ao PT e aos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta afastada Dilma Rousseff. O deputado está no quarto mandato, iniciado no PP e depois migrou para o PMDB no período em que o partido estava dividido entre apoio ao ex-presidente Lula e a possibilidade de uma candidatura própria.

Sobre sua eleição à presidência da Câmara dos Deputados, Cunha afirmou que o governo fez de tudo para me derrotá-lo. “Todos que me apoiavam não aceitavam a submissão aos princípios do PT. O governo não tinha maioria e sofreu derrotas constantes dentro do parlamento.”

Críticas ao PT:

“Grande parte das acusações tem a ver com os anos de 2005 e 2006, quando estávamos em confronto com o governo Lula. Em 2010, o PMDB fez aliança com o PT e apoiamos a eleição daquele ano. Houve de tudo na última eleição da presidência. A campanha de Dilma foi vitoriosa, mas se prometeu o que não podia se fazer.”

CPI da Petrobras e contas no exterior

Em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, Cunha disse também que está “absolutamente convicto” de que não mentiu em 2015 quando disse que não possui contas não declaradas o exterior. A possível mentira foi justamente o que embasou o pedido de cassação do peemedebista, apresentado pelo PSOL e Rede no Conselho de Ética da Câmara.

“Estou absolutamente convicto de que não menti”, afirmou Cunha. Apesar das provas apresentadas pelo Ministério Público Suíço e pelo Banco Central brasileiro, o peemedebista disse que não há comprovações de que ele tinha contas secretas que movimentava fora do País. “Eu ter conta na literalidade da conta, não há comprovação disso, não tem como comprovar. A conta da minha esposa estava dentro do padrão do Banco Central e ela não tinha obrigação de declarar”, disse.

Cunha destacou as votações que aconteceram enquanto estava à frente da presidência da Câmara. “Votamos várias pautas de segurança pública, como a maioridade penal. Aprovamos a correção do FGTS, a chamada PEC da Bengala”.

O presidente afastado relembrou as denúncias contra ele. “Em nenhuma das denúncias ou inquéritos abertos eu fui chamado para ser ouvido, para que pudesse prestar esclarecimentos.Ninguém queria me ouvir”, disse.

Presidente do Conselho agiu de má fé, diz político

Durante a entrevista, Cunha fez duras críticas ao presidente do Conselho de Ética, o deputado José Carlos Araújo (PR-BA).

“Tudo que eu faço dizem que é manobra. Desde o primeiro momento, o presidente do Conselho de Ética usou de má fé. Sempre errava propositalmente para logo em seguida me acusar de manobras. Acredito que ele queria levar o processo até 2018”.

Jacques Wagner e oferecimento de votos:

Segundo Cunha, o ex-ministro da Casa Civil Jacques Wagner o ofereceu, em pelo menos três encontros, os votos a seu favor dos três integrantes titulares do PT no Conselho de Ética em troca de o peemedebista não aceitar o pedido de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

Segundo Cunha, Wagner chegou a fazer uma oferta para não incluir a mulher e a filha do peemedebista na discussão do processo de cassação do qual é alvo na Câmara.

O peemedebista disse que os três encontros que teve com Wagner ocorreram na residência oficial da presidência da Câmara, na base aérea de Brasília e no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República.

De acordo com Cunha, o presidente da República em exercício, Michel Temer, intermediou o terceiro encontro, mas não participou da reunião. “E nos três encontros, ele ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética e chegou a ponto de oferecer que não haveria discussão sobre minha mulher e milha filha. (.. ) Soava como chantagem”, disse.

O presidente afastado da Câmara afirmou que Jacques Wagner também chegou a oferecer a ele o controle sobre o presidente do Conselho. De acordo com o peemedebista, o ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff afirmou que tinha “controle total” sobre Araújo, ao sustentar que o parlamentar baiano dependia de algumas ações do governo da Bahia. A administração estadual é atualmente comandada pelo governador Rui Costa (PT), que sucedeu Wagner no cargo.

Segurança

O político destacou que vai continuar usando a segurança que lhe é oferecida. “Independentemente de estar no cargo ou não, há necessidade de segurança. Alguém tem dúvidas das agressões de petistas, de quem perdeu uma ‘boquinha’? Isso faz parte da prática do PT”.

O presidente afastado também contou que toda semana recebe ofical de Justiça com documentos pedindo o seu afastamento. Geralmente,segundo ele, são pedidos de pessoas ligadas ao PT e ao PCdoB.

Dilma Rousseff 

Cunha disse que já estava decidido a deflagrar o impeachment de Dilma antes de o PT declarar voto contra ele no Conselho de Ética. Conforme o peemedebista, a decisão estava assinada e trancada em um cofre na Câmara.

“Eu não sou nem vilão, nem herói no processo. Apenas cumpri com meu papel de presidente. Tenho a consciência tranquila que livrar o Brasil da Dilma e do PT será uma marca que eu tenho o orgulho de carregar”, finalizou.

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